"Ponto de vista": Uma alma para a União Europeia.

Uma alma para a União Europeia.

    Logo que assumiu o cargo de Primeiro-Ministro da Itália, Matteo Renzi apontou o que falta à União Europeia: uma nova alma.
    Construída logo a seguir ao desastre que para o Mundo e para a Europa constituiu a Guerra de 1939/45, o objectivo que os seus fundadores tiveram em mente foi essencialmente o de evitar novos conflitos numa Europa que não tinha retirado as apropriadas ilações do sucedido em 1914/18.
    Assim, os pilares em que assentou a respectiva metodologia foram essencialmente o fomento da cooperação comercial e a exclusão de Estados em que não houvesse liberdade política, caminhando-se depois para uma progressiva livre circulação de pessoas, esperando-se deste modo a redução das áreas de atrito entre os países aderentes.
    Entretanto as consequências dos sangrentos conflitos militares em que as nações europeias se tinham envolvido fizeram acelerar as independências dos povos colonizados bem como o aparecimento no cenário internacional de novas potências militares e económicas, factores que contribuíram decisivamente para a redução da influência que a Europa tivera até então em termos mundiais.
    Não foi portanto uma surpresa que a cooperação europeia tivesse passado a pautar-se por objectivos essencialmente de natureza económica visando o aumento do bem-estar dos seus cidadãos, enquanto procurava a expansão possível na sequência do desmembramento da União Soviética - com os negativos episódios das guerras jugoslavas - e o realinhamento das fontes de energia perdidas após as descolonizações.
    Com as reduções sensíveis nos gastos militares decorrentes da matriz pacifista auto-imposta desde a sua criação e da necessidade do aumento de despesas de natureza social também incluídas no modelo de desenvolvimento adoptado, a União Europeia passou a privilegiar ainda mais os seus objectivos em matéria de economia, esquecendo contudo  na criação do Euro de que a emissão de moeda é um dos actos que caracterizam a soberania política, o que não ocorria no conglomerado de Estados aderentes.
    Pode dizer-se, deste modo, que a União nunca reflectiu verdadeiramente sobre o seu possível novo papel no mundo, apoiado numa reflexão profunda sobre como melhorar uma comunidade de povos que reconhecem que o que os une pode ser mais do que o que os separa.
    É pois necessária uma alma para a Europa, um novo espírito europeu, que tenha em conta os erros passados e que o que esteve em meados do século passado na origem da construção da União Europeia deve ser reajustado aos tempos que vivemos e ao futuro que se avizinha.
    Matteo Renzi pode contar com muitos de nós europeus, e em especial com os portugueses, que abriram portas à globalização e encerraram igualmente o último império colonial.
27.Julho.2014.