"Ponto de vista" - Rússia: escaladas verbais perigosas.

Rússia: escaladas verbais perigosas.

    "Quero recordar-lhes que a Rússia é uma das mais poderosas potências nucleares. Não são só palavras, isto é uma realidade".
    Palavras muito recentes de Wladimir W. Putin, proferidas publicamente, cujo teor é muito raro entre os responsáveis políticos de Estados detentores de armas nucleares com vectores de transporte intercontinentais.
    A situação que se vive na Ucrânia deu origem a tais declarações e pode ter sido provocada por um conjunto de factores , dos quais o primeiro foi a velada oposição dos EUA a uma maior aproximação entre a Rússia e a União Europeia, simbolizada quando forçaram a implantação na Europa e Mediterrâneo de um poderoso sistema anti-mísseis visando - como argumentaram - a defesa contra nomeadamente o Irão, recusando a oferta russa de colaboração na respectiva instalação e manuseamento.
    A Federação Russa mudou a partir desse momento a sua atitude face à União Europeia, considerando que o argumento de se tratar de um projecto no âmbito da OTAN não lhe retirava a perspectiva de se tratar de uma acção que, envolvendo essencialmente Estados recém integrados na OTAN e na UE, teria como verdadeiros propósitos uma postura agressiva relativamente à Rússia.
    Seguiu-se a opção por acções militares nos Estados do Cáucaso, e o estrangulamento energético da Ucrânia, para se chegar à presente situação - detonada por uma política pouco cautelosa da União Europeia que, ao forçar uma aproximação político-económica à Ucrânia sem um diálogo abrangente com a Rússia, provocou a destituição violenta de um presidente democraticamente eleito, e que assegurava a convivência da maioria ucraniana com as minorias de expressão russa.
    O resultado está à vista: uma Crimeia "independente", uma guerra interna no leste da Ucrânia, notoriamente apoiada por Moscovo, uma reorientação da política externa russa, e uma inesperada escalada verbal onde foi recordado o impensável: o possível recurso a armas nucleares.
    A União Europeia mostrou assim, uma vez mais, o seu estatuto de potência menor, aninhada sob o escudo protector dos EUA, que se encarrega dos "trabalhos sujos" como os que se avizinham no Médio-Oriente.
    Talvez a mudança de "Ash Ton" para uma italiana possa contribuir, com o simbolismo decorrente do desaparecimento das toneladas de cinzas que ficaram associadas à ausência de uma política externa consistente, para o surgimento de uma UE delas renascida.
    E talvez a substituição dos apagados V. Rompuy e D.Barroso por D. Tusk e J.Juncker possa permitir que tal renascida União encontre o seu caminho colocando a "presidente"  A.Merkel no seu lugar.
    No entanto, é certo que "Tusk" significa "presa", em inglês. Presa de quem ?
31.Ago.2014.