Ponto de vista: E.Macron e o Poder Local.


   E.Macron e o Poder Local.

Perguntarão alguns leitores qual a razão pela qual se associa no presente texto o nome do Presidente francês à questão do Poder Local, que não terá constituído tema de relevo no programa de intenções com que se apresentou ao eleitorado.

O motivo prende-se com a dissolução  de facto a que o seu movimento político  procedeu relativamente a partidos do centro, fundindo propostas de intervenção tanto do centro-esquerda como do centro-direita, abrindo caminho para um modelo triangular que poderá persistir caso os partidos afectados não recuperem o espaço perdido.

E isto, baseado numa imagem de simpatia em que a personalidade do então candidato, aliada ao conjunto de ideias alinhadas com o centro político, transmitiu uma ideia de proximidade em que o factor humano se revelou essencial.

Ideia de proximidade que irá constituir o primeiro golpe na organização do poder politico baseada em partidos fundados em ideias de funcionamento que há 250 anos assentavam na representação de "distritos" através de deputados em parlamentos centrais.

Que, porém, deixavam pouco espaço político para a participação local na administração dos assuntos públicos, pois mesmo o recurso a círculos uninominais não permitia nem permite "aproximações" entre um eleito e as dezenas de milhares de eleitores representadas por tal deputado.

Entretanto o surgimento de grandes capacidades de difusão electrónica permitiu um aumento exponencial da informação, que com a televisão aumentou o afastamento físico entre a maioria dos cidadãos, que embora detentores de mais elementos informativos (se bem que com poucos instrumentos e formação para aferição da respectiva credibilidade) continuam longe dos seus representantes directos junto do poder central.

E o mesmo afastamento ocorre quanto às relações com os representantes a nível local quando estes não têm suficientes competências e poderes delegados que lhes permitam "atrair" os seus eleitores à análise presencial das questões que mais directamente lhe interessem.

Análise presencial em que melhor se revelariam as qualidades​ dos representantes eleitos, bem como os seus projectos e respectivas capacidades de execução, possibilitando assim uma desejável mutação para um modelo político mais saudável - porque mais próximo dos cidadãos.

Não é assim por acaso que constatamos que em Portugal a verdadeira descentralização dificilmente atinge o nível das Freguesias, parando no dos Municípios.

É neste ponto que cabe acentuar que  estaremos talvez a ter a oportunidade de terminar com os modelos tradicionais de partidos políticos baseados em dispositivos  constitucionais que lhes asseguram a maior parte do poder politico, e aos quais sucederão (como aliás já ocorre) movimentos políticos de transição, formados obviamente a partir do poder local.

O futuro o dirá.

18.Jun.2017.