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"Ponto de vista": Futebol, caudilhismo, e democracia.
Futebol, caudilhismo, e democracia.
Foram no mês em curso soltados demónios preocupantes para vida em sociedade.
Numa conhecida associação cujo principal objectivo é a participação de jogadores em espectáculos de futebol profissional foram convocadas, a pedido da respectiva Direcção, duas Assembleias Gerais destinadas à aprovação de modificações estatutárias que incluíam nomeadamente a proibição de readmissão durante oito anos de associados que tivessem sido expulsos.
Durante as citadas Assembleias, e no período que entre elas mediou, sucederam-se declarações do presidente da respectiva Direcção que em muitos meios de informação pública foram caracterizadas como socialmente inconvenientes e provocadores de acesas controvérsias, bem como de distribuição de epítetos por muitos classificados como soezes.
Para a segunda das referidas Assembleias (em que o número de participantes terá supostamente excedido 4 mil) a Direcção colocou como condições para continuar em funções que as modificações em causa fossem aprovadas por maioria superior a 75% dos votos válidos, concomitantemente com mais de 86% relativos à expressa reafirmação de desejo de continuação em funções da actual Direcção, tendo tais aprovações alegadamente superado os valores em causa (pois até ao presente momento não são conhecidos - tanto quanto se sabe - os resultados"oficiais" da votação, nomeadamente as percentagens de abstenções, votos em branco, e nulos).
No final desta Assembleia o Presidente da Direcção proferiu um discurso em que, entre outras afirmações dignas de registo - dada a peculiariedade de que se revestiram - incitou os associados a não adquirirem jornais "desportivos" (bem como o "Correio da Manhã), nem a assistirem a programas de televisão, ou mesmo a neles participarem enquanto comentadores desportivos.
Exceptuando, afirmou, a estação de Tv pertencente à própria associação.
(Ter-se-à esquecido, admite-se, de excluir de tal Index o próprio "jornal desportivo"...).
Não terá sido de espantar, assim, que à saída do recinto onde aqueles milhares de pessoas se tinham reunido, algumas dezenas de associados tivessem insultado e agredido (e inclusivamente arremessado um petardo) os muitos jornalistas e operadores de Tv que pacífica e pacientemente esperavam pelo termo da Assembleia - e não tendo tais incidentes sido mais violentos devido à pronta intervenção de forças policiais.
Os sinais que estes episódios - de uma amostra significativa da sociedade portuguesa - transmitem relativamente ao modo democrático de vivência são altamente preocupantes, e requerem um profundo esforço de melhoria dos sistemas de participação e educação política.
Antes que outros demónios caudilhistas e extremistas joguem com emoções primárias.
18.Fevereiro.2018.
(Corrigidas em 19.Fevereiro algumas inexactidões, nomeadamente no 4º parágrafo).