1975: uma pasta ministerial
("Semimórias")
Meados de Setembro - 1975.
O então 1º Tenente João Pires Neves (agora um distinto Vice-Almirante), na sua qualidade de membro do Gabinete do Almirante Pinheiro de Azevedo - indigitado Primeiro-Ministro - telefona-me informando que o Almirante me queria falar.
Desloquei-me ao seu gabinete, onde o Almirante (com quem tinha falado apenas uma vez desde Abril do ano anterior) me convidou a fazer parte do Governo de que ele iria ser 1º Ministro, propondo-me ser responsável ou pela pasta da Comunicação Social ou pela da Administração Interna, acentuando porém o seu interesse em que eu aceitasse esta última..
Agradeci-lhe - surpreendido mas sensibilizado - referindo que por um lado não concordava com a existência de um Ministro para a "Comunicação Social", e que por outro entendia que poderia ser mais útil na organização directa dos actos eleitorais cuja concretização já se perfilava no horizonte político (Assembleia da República, Presidência da República, Assembleias Regionais, e Autarquias Locais), fundamentais para a implantação da democracia em Portugal.
Referindo compreender a minha preocupação perguntou-me então quem eu sugeria para o Ministério da Administração Interna, na condição de o futuro Ministro me nomear para o Departamento eleitoral, pelo que lhe sugeri o nome do então Capitão-de-fragata Vasco Almeida e Costa, que dirigia o STAP (Secretariado Técnico dos Assuntos Políticos) desde a realização das eleições para .a Assembleia Constituinte, organismo a quem competiria a organização das eleições previstas para o ano seguinte.
Tal viria a acontecer, tendo eu começado por mudar a designação e finalidades do STAP, que passou a ser designado por STAPE (Secretariado Técnico para os Assuntos dos Processos Eleitorais), retirando-lhe a componente "política" que decorria do facto de acolher um gabinete para análises de tal natureza e de realização de sondagens de opinião, actividades que eu considerava não serem compatíveis com a realização de eleições.
Por outro lado, nunca aceitei ser nomeado Director-Geral, assinando sempre como "Servindo de Director-Geral" (o que muito irritava o saudoso Comandante Almeida e Costa...), e obviamente a respectiva remuneração, continuando a auferir apenas a correspondente ao meu posto de Capitão-tenente, marcando assim o carácter transitório das minhas funções.
(A título de curiosidade: passados bastantes anos, o já Almirante Almeida e Costa perguntou-me se eu conhecia as razões que tinham levado ao convite para aquela pasta, ao que eu, embora surpreendido por ele nunca se ter apercebido, respondi que o indigitado 1º Ministro tinha consultado diversas pessoas - aliás talvez tivesse também sido o caso... - entre as quais eu.).
Assim, e graças ao extraordinário e dedicado grupo de Colaboradores - na sua maioria jovens, e a que me referirei oportunamente, readaptado no sentido de se melhorarem alguns equilíbrios necessários, que já tinham alguma experiência decorrente da organização das eleições Constituintes, e com muito trabalho, decorreu tudo muito bem, constituindo-se um organismo modelar.
Pena foi que não fossem aceites as minhas sugestões no sentido de se atribuírem mais poderes aos órgãos de Poder local ao nível das Freguesias.
O país seria politicamente mais saudável.
E logicamente, terminados que foram os actos eleitorais de 1976 coroando o final da transmissão da maior parte do Poder político até então exercido pelas Forças Armadas, e após ter sido contemplado com um louvor concedido pelo ilustre Coronel Manuel Costa Braz (então Ministro), regressei à Marinha no princípio de 1977.
Onde fui igualmente "contemplado" com a minha colocação na área da Educação Física da Armada - o que bastante bem me fez à saúde - onde fiquei durante largos anos, talvez sob o olhar divertido dos comandantes supremos das Forças Armadas...
15.Abril.2018