Um adeus à Marinha.
("Semimórias").
Princípios de 1977.
Terminada a realização das cinco primeiras eleições constitucionais (cuja organização me tinha sido atribuída conforme referido em texto anterior), considerei ser meu dever regressar à Marinha uma vez que estava concluída a passagem de grande parte do poder político, até então exercido por militares, para o povo - representado pelos seus deputados.
(Refiro-me a "grande parte do poder político" dado o facto de o Conselho da Revolução ir constitucionalmente manter uma parte desse poder até cessar a sua existência, o que viria a suceder em 1982).
Como já oportunamente mencionado fui então colocado nos serviços de Educação Física, onde permaneci cerca de 10 anos - sem me serem proporcionadas possibilidades de exercício de comando no mar, em notório atropelo do que seria de esperar e em contraste com o tratamento de carreira dado aos meus pares.
A nomeação do Almirante Rasquilho Raposo para o cargo de Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, que me conhecia bem dos tempos de 1974/75, permitiu que em 1986 eu fosse nomeado Subdiretor de Infraestruturas Navais - o que pressupunha a credenciação no nível "Nato Confidencial", que assim me foi concedida.
Acentuo este pormenor porque após 2 anos de exercício daquele cargo o Superintendente do Pessoal, Almirante Cerejeiro, me informou que eu não seria designado para a frequência do curso de eventual promoção ao almirantado por não ter a credenciação (Nato Secreto) necessária.
Tratava-se de argumento pouco credível pois não só a diferença entre os níveis de credenciação confidencial e secreto não era muito acentuada como também porque o curso em causa era frequentado por oficiais do Brasil e de Espanha, Estados que então não faziam parte da Nato.
Solicitei de imediato uma audiência ao Almirante Andrade e Silva, Chefe do Estado-Maior da Armada, a quem relatei o assunto e que me disse com toda a franqueza que eu não tinha sido seleccionado para aquele curso por estar excessivamente conotado com os "socialistas".
Referi-lhe então que iria solicitar a passagem à Reserva, e que iria informar do sucedido as instâncias parlamentares adequadas.
Obviamente amargurado, pois tinha sempre pautado as minhas acções - mesmo nos "quentes" anos de 1973 a 1975 - procurando ter presentes os interesses de Portugal e da Marinha, bem como a Divisa "Talant de bien faíre"...
Obviamente amargurado, pois tinha sempre pautado as minhas acções - mesmo nos "quentes" anos de 1973 a 1975 - procurando ter presentes os interesses de Portugal e da Marinha, bem como a Divisa "Talant de bien faíre"...
Por coincidência, no dia seguinte recebi um telefonema de um responsável da Comissão Europeia propondo que eu aceitasse a título experimental um posto naquela Instituição, para cujos quadros tinha concorrido 2 anos antes, após ter então deduzido (algo tardiamente, diga-se...) que a Marinha não estaria muito interessada na minha prestação de serviço.
Sucedia que tinha ficado em lista de reserva, aliás tendo ficado também em idêntica lista mas para outro tipo de funções de perfil mais elevado.
Consultei a minha Mulher, referindo-lhe também que se podia considerar, salvaguardadas notórias diferenças, que ia para a "Legião Estrangeira", e não hesitei, tendo de imediato aceitado a proposta.
Mais algumas pequenas peripécias ocorreram depois.
Delas darei conta num próximo episódio.
22. Abril.2018