"Ponto de vista": Há 50 anos, M.Béjart "incendiava" o Coliseu.


   Há 50 anos, M.Béjart "incendiava" o Coliseu.

No próximo dia 6 passarão 50 anos sobre a data em que Maurice Béjart, no final do "Romeu e Julieta" em que um Coliseu repleto aplaudiu vivamente o bailado apresentado pela sua Companhia, referiu (em francês, que Robert Kennedy tinha sido assassinado naquele mesmo dia , "vítima da violência e do fascismo", acrescentando o seguinte: "Contra todas as formas de violência e de ditadura, peço-vos um minuto de silêncio em sua memória."

Após o sepulcral silêncio o público rompeu num enorme e longo aplauso durante diversos minutos - há quem refira terem sido mais de 10 - em que se ouviram repetidamente apelos à liberdade, bem como "bravo".

Público esse que seria bem representativo - na sua maioria - de uma "classe urbana" educada e com meios de subsistência que permitiam a assistência a espectáculos acessíveis (bilhetes em média de cerca de 10 Euros a preços actuais), e que segundo o Dr.Azeredo Perdigão, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian (citado pelo "Expresso" do passado 26 de Maio), era constituído por pessoas pertencentes a diversas "categorias sociais e funções políticas e privadas".

Tinha já ocorrido, no Vietname, a ofensiva do Tet e aumentava nos EUA a contestação àquela guerra. Tinha já ocorrido o "Maio de 1968", em França.

Pouco depois António de Oliveira Salazar era substituído por Marcelo Alves Caetano, que no seu discurso de posse diria : " O País habituou-se durante largo período a ser conduzido por um homem de génio; de hoje para diante tem de adaptar-se ao governo de homens como os outros."

Não deveria ter exagerado, pois a sua elevadíssima capacidade intelectual não lhe conferia só por isso a de saber governar, e a de ter em consideração a evolução que caracterizava as relações entre os povos, nomeadamente a partir do termo da segunda Guerra Mundial, bem como os sinais de descontentamento com o regime político de que o episódio do Coliseu tinha sido prova bastante.

O citado discurso ocorreu no início de Setembro do mesmo ano.

Cinco anos depois reuniam-se no Alentejo, também em princípios do mesmo mês, mais de 100 capitães do Exército, num movimento que iria culminar numa sublevação militar em 25 de Abril do ano seguinte.

Cinco anos: tempo suficiente para  se encontrar uma solução de raiz democrática para o regime político?

O tempo demonstrou que nem sequer foi procurada.

3.Junho.2018