("Semimórias")
Em 5 de Março de 1974, um documento histórico.
No passado dia 1 de Abril (quiçá simbolicamente...) iniciei a publicação de alguns textos relativos a acontecimentos que ainda bruxuleavam na minha memória, e que assim passei a designar por "semimemórias" - ou seja, susceptíveis de serem corrigidas na sequência de fundamentadas observações - a que a presente plataforma telemática permite uma maior rapidez de actualização da que ocorre nos veículos clássicos de suporte em papel.
Nesse primeiro texto referia-me à aprovação por uma larga maioria dos cerca de 170 oficiais do Exército (representanto mais de 600) que em 5 de Março de 1974, em Cascais, concordaram com o conteúdo de um texto intitulado "O Movimento, as Forças Armadas, e a Nação" (que viria a constituir o documento de referência em que se basearia o Programa do "Movimento das Forças Armadas"), tendo eu, conjuntamente com o Capitão-tenente Almada Contreiras e o Primeiro-tenente Vidal de Pinho, participado em tal reunião a título de observadores convidados (bem como e obviamente o Capitão Piloto-aviador Seabra), e - conforme solicitação dos nossos Camaradas do Exército - informado os presentes que iríamos dar conhecimento aos Camaradas da Marinha que acompanhavam o desenvolvimento daquele tipo de reuniões, do implícito convite à participação (ou neutralidade) na sublevação que se configurava (ao ponto de ter havido uma votação sobre qual de dois Generais deveria ser convidado a dirigir uma acção militar.
Momento que, conforme me foi notado pela distinta Autora, Dra Maria José Maurício, marcou a passagem de um "Movimento de Capitães" ao "Movimento das Forças Armadas" - o MFA.
No dia seguinte convidei os mencionados Oficiais de Marinha.a ouvirem o relato da reunião, tendo no final acentuado que só continuaria inserido na acção conspirativa caso nela passasse a haver aproximação a Oficiais combatentes (quer em navios operacionais, quer no Corpo de Fuzileiros), e de Oficiais mais antigos cujo perfil fosse pressentido como de crítica ao regime político.
A história da elaboração do citado documento tem aspectos curiosos, de que conheço alguns episódios, coroados por uma reunião final, poucos dias antes da ocorrida em Cascais, e para a qual o então Major Hugo dos Santos me convidou a participar dado ter sido principalmente com ele - um dos Oficiais do Exército mais activos nas múltiplas reuniões que ocorriam desde Setembro de 1973 no âmbito de análises das razões de insatisfação com diversos aspectos de políticas governamentais - que eu me reunia desde o princípio de Outubro, transmitindo depois os conteúdos de tais reuniões para diversos Oficiais - colocados em unidades que abarcavam a maioria das unidades e serviços da Marinha - igualmente preocupados com tais políticas (Oficiais - e na sua grande maioria mais jovens - que obviamente também contactavam com os seus pares nos outros Ramos das Forças Armadas).
A citada reunião final teve lugar em casa do então Capitão Piloto-Aviador Seabra, em Algés, na qual participaram também o Capitão Balacó (da Força Aérea), três Oficiais do Exército (o então Tenente-Coronel Costa Brás e os então Majores Melo Antunes, e Moreira de Azevedo), e quatro da Marinha (Capitão-tenente Almada Contreiras, Primeiros-tenentes Vidal de Pinho, e Cunha Lauret, bem como o autor do presente texto).
(Para amenizar um pouco a presente descrição, um pormenor mais divertido: os participantes na reunião - salvo o Capitão Pil-Av. Seabra - encontraram-se previamente no jardim de Algés, perto da estação de comboios, e deslocaram-se a pé, em pequenos grupos visando não atraír assim muitas atenções, até ao local previsto; aí chegados, um dos Oficiais começa a de modo algo irritado invectivar o "guia" que o tinha conduzido até lá, e perante a surpresa dos restantes explicou que tinha saído de casa bem cedo para ir ao sítio do encontro preliminar - para depois regressar "a casa", pois residia no mesmo prédio onde morava o anfitrião !).
Iniciada a reunião, o Capitão Piloto-Aviador Seabra congratulou-se pelo facto de ser em sua casa a primeira reunião daquele tipo em que participavam Oficiais dos três (!) Ramos das Forças Armadas, incluindo Oficiais Superiores, e passou a palavra aos participantes, que após uma análise preliminar dos textos por eles apresentados se detiveram mais sobre o que continha reflexões de cariz mais global e profundo - o que tinha sido elaborado por Ernesto Melo Antunes, que fez então um breve resumo do documento, referindo ter tido a colaboração de outros Oficiais, entre os quais dois ali presentes, não referindo quais, porém tendo eu intuído no decorrer da reunião que um deles poderia ser da Marinha.
Tratava-se do texto que, após diversas propostas de aperfeiçoamento por parte de alguns dos restantes Oficiais, viria a ser apreciado 2 dias depois (5 de Março) no já referido encontro de Cascais.
A minha prinicipal intervenção situou-se essencialmente na redacção dos últimos parágrafos da pág.3, que transcrevo:
"(...) sem democratização do País não é possível pensar em qualquer solução válida para os gravíssimos problemas que se abatem sobre nós.
Trata-se, portanto, antes de mais nada e acima de tudo, da obtenção a curto prazo de uma solução para o problema das Instituições no quadro de uma democracia política.".
Mais tarde vim a saber que a versão inicial do notável documento apresentado pelo então Major Melo Antunes tinha sido preparada com a colaboração de dois distintos Oficiais de Marinha (um deles ali presente), em dois encontros - um em Algés, e outro em Lisboa - facto que eu desconhecia e que viria a ser por ele revelado em livro publicado cerca de 40 anos depois...
10 de Junho de 2018.
(Dia de Portugal, de Camões, e das Comunidades Portuguesas).
A história da elaboração do citado documento tem aspectos curiosos, de que conheço alguns episódios, coroados por uma reunião final, poucos dias antes da ocorrida em Cascais, e para a qual o então Major Hugo dos Santos me convidou a participar dado ter sido principalmente com ele - um dos Oficiais do Exército mais activos nas múltiplas reuniões que ocorriam desde Setembro de 1973 no âmbito de análises das razões de insatisfação com diversos aspectos de políticas governamentais - que eu me reunia desde o princípio de Outubro, transmitindo depois os conteúdos de tais reuniões para diversos Oficiais - colocados em unidades que abarcavam a maioria das unidades e serviços da Marinha - igualmente preocupados com tais políticas (Oficiais - e na sua grande maioria mais jovens - que obviamente também contactavam com os seus pares nos outros Ramos das Forças Armadas).
A citada reunião final teve lugar em casa do então Capitão Piloto-Aviador Seabra, em Algés, na qual participaram também o Capitão Balacó (da Força Aérea), três Oficiais do Exército (o então Tenente-Coronel Costa Brás e os então Majores Melo Antunes, e Moreira de Azevedo), e quatro da Marinha (Capitão-tenente Almada Contreiras, Primeiros-tenentes Vidal de Pinho, e Cunha Lauret, bem como o autor do presente texto).
(Para amenizar um pouco a presente descrição, um pormenor mais divertido: os participantes na reunião - salvo o Capitão Pil-Av. Seabra - encontraram-se previamente no jardim de Algés, perto da estação de comboios, e deslocaram-se a pé, em pequenos grupos visando não atraír assim muitas atenções, até ao local previsto; aí chegados, um dos Oficiais começa a de modo algo irritado invectivar o "guia" que o tinha conduzido até lá, e perante a surpresa dos restantes explicou que tinha saído de casa bem cedo para ir ao sítio do encontro preliminar - para depois regressar "a casa", pois residia no mesmo prédio onde morava o anfitrião !).
Iniciada a reunião, o Capitão Piloto-Aviador Seabra congratulou-se pelo facto de ser em sua casa a primeira reunião daquele tipo em que participavam Oficiais dos três (!) Ramos das Forças Armadas, incluindo Oficiais Superiores, e passou a palavra aos participantes, que após uma análise preliminar dos textos por eles apresentados se detiveram mais sobre o que continha reflexões de cariz mais global e profundo - o que tinha sido elaborado por Ernesto Melo Antunes, que fez então um breve resumo do documento, referindo ter tido a colaboração de outros Oficiais, entre os quais dois ali presentes, não referindo quais, porém tendo eu intuído no decorrer da reunião que um deles poderia ser da Marinha.
Tratava-se do texto que, após diversas propostas de aperfeiçoamento por parte de alguns dos restantes Oficiais, viria a ser apreciado 2 dias depois (5 de Março) no já referido encontro de Cascais.
A minha prinicipal intervenção situou-se essencialmente na redacção dos últimos parágrafos da pág.3, que transcrevo:
"(...) sem democratização do País não é possível pensar em qualquer solução válida para os gravíssimos problemas que se abatem sobre nós.
Trata-se, portanto, antes de mais nada e acima de tudo, da obtenção a curto prazo de uma solução para o problema das Instituições no quadro de uma democracia política.".
10 de Junho de 2018.
(Dia de Portugal, de Camões, e das Comunidades Portuguesas).
(Revisto em 9 de Agosto.de.2023).
(Texto modificado em 27 de Agosto de 2019).
(Texto modificado em 27 de Agosto de 2019).