No teu primeiro aniversário, uma carta para o futuro.
Comemoramos o teu primeiro aniversário, minha Querida - o primeiro dos muitos que celebrarás, e que provavelmente serão mais de cem !
Certamente os teus Papás irão explicar-te os termos desta mensagem assim que sentirem que estarás em condições de os compreender, voltando a fazê-lo de vez em quando até ao momento em que lhes digas que já não será preciso voltar a dar mais explicações.
A razão pela qual o fazemos prende-se com o facto de pressentirmos que a tua vida vai ser pautada por muitos acontecimentos que irão moldar o futuro da humanidade de um modo que agora é muito difícil de imaginar com grandes probabilidades de certeza.
E tu, minha Querida , vais ter que te preparar - tal como todas as pessoas que estiverem a viver ao mesmo tempo do que tu - para contribuires na medida das tuas possibilidades e das oportunidades que vierem ter contigo ou que tu mesma criares, ajudares a que a Terra recupere tanto quanto possível o equilíbrio que ajudou a que a humanidade progredisse e tivesse um papel relevante no seu destino.
E que o continue a manter, reduzindo e posteriormente eliminando as causas potenciais que podem contribuir para a sua destruição ou para o agravamento das condições de vida dos seres que a habitam.
Para tal tens que ter sempre presente que cada vez mais o domínio da informação vai ter um papel da maior importância no que respeita ao governo das nossas sociedades, e que é fundamental que ela seja credível e que seja evitada a sua manipulação.
Ao mesmo tempo é importante considerarmos que devemos procurar reduzir as possibilidades de ser criado um mundo em que uma grande parte das pessoas receba apenas informação destinada a promover o consumo e a mantê-las num estado de alienação em que se deixa para uma parte privilegiada da população a capacidade de dirigir a vida da outra parte.
Muitas vezes disfarçando estas metodologias de dominação através de supostas democracias representativas deixando de lado a possibilidade de estas também serem altamente participativas - em que o poder político é criado a partir de sucessivas representações delegadas, em processos que deviam ter a sua base nas unidades de poder local.
Só assim é que os poderes políticos a nível mundial poderão ter legitimidade e capacidade para responder seriamente aos problemas que já começam a surgir no que respeita à inteligência artificial e à robótica, com os seus reflexos nos equilíbrios económicos e financeiros e nas suas consequências nas relações intergeracionais.
Durante a tua vida começarão a sobressaír questões de natureza ética sobre as nossas relações com novos seres electromecânicos
Os quais poderiam ser herdeiros das nossas memórias assegurando assim um certo tipo de imortalidade, uma vez que citando Martin Rees, seriam eles os exploradores do universo em busca de novos locais para que a inteligência humana de que eram repositório se perpetuasse.
Recomendo-te que quando perfizeres 14 anos leias um livro publicado em 1932 (100 anos antes) no qual A.Huxley descrevia o que caracterizava como um "admirável" mundo novo, que existiria em 2540, e verifiques se notas que estejam a ser dados passos em tal sinistro sentido - aqui e no resto do mundo - e que comeces a pensar no que poderás fazer, quando tiveres possibilidades para tal, para que tal rumo seja corrigido.
Aconselho-te igualmente que em 2045 releias o "1984" (publicado também um século antes) e passes em revista mental o que certamente já terás feito para impedir que tal aterrorizador quadro se tenha concretizado.
Nesse momento já terás filhos, que por certo estarão no cerne das tuas preocupações e a quem alguns anos depois transmitirás o nosso desejo de que estejam a contribuir no sentido de 2084 vir a ser uma data em que se comemoram 100 anos sobre uma previsão que felizmente não ocorreu.
E, vendo agora a foto da tua radiosa carinha, uma "furtiva lágrima" desliza pela minha face, desejando-te a felicidade que tu mereces de vires a ter uma vida tranquila e equilibrada para a qual formulo os meus votos!
2019.
