"Brexit": A armadilha da UE ao RU.
Perdoar-me-ão que volte a aflorar a questão da Brexit, pois é no momento actual um dos assuntos mais relevantes para a União Europeia (UE), em paralelo com outros, desde as alterações climáticas aos movimentos sociais e ao equilíbrio estratégico mundial.
A perturbação que se instalou nos britânicos e nos seus representantes políticos foi substancialmente agravada pelo facto de, não tendo sido respeitada a data de 29 de Março para a concretização da Brexit, se perfilar a das eleições para o Parlamento Europeu, que obviamente deverão ser realizadas enquanto o Reino Unido (RU) pertencer à União - excepto se o acordo final de saída fixasse uma data muito próxima da programada para o acto eleitoral - situação que porém deveria constar do respectivo acordo.
Ora a UE, ao propor o final de Outubro para a saída e não tendo aparentemente havido oposição do Governo nem do Parlamento a tal perspectiva, "armadilhou" o assunto, pois assim permite a consolidação dos movimentos que advogam a realização de um novo referendo, tendencialmente pressupondo que seria indicativo de uma opção de permanência.
Tais movimentos já estão assim a aproveitar a possiblidade de as eleições europeias ocorrerem no Reino Unido para instarem os principais partidos políticos a inscrever nas respectivas campanhas eleitorais a realização de novo referendo, tendo ontem mesmo havido uma importante declaração política de R.Corbett, destacado membro do Partido Trabalhista, apelando a J.Corbyn em tal sentido - argumentando que caso o não fizesse o próprio partido perderia milhões de eleitores, na sua grande maioria jovens, que poderiam votar no recém-nascido e anti-Brexit "Change UK", ou nos Partidos Liberal,-Democrata, Verdes, e Nacional Escocês.
Aliás o mesmo poderá ocorrer no interior do Partido Conservador, no qual a homogeneidade nesta matéria não reina; e em qualquer dos dois principais partidos o facto de as eleições se processarem em círculos uninominais irá obrigar os candidatos a terem que claramente indicar a respectiva posição na questão de um novo referendo - opção que ainda não se colocava aquando das eleições europeias anteriores nem evidentemente mesmo das que T.May desastradamente (para o seu partido) convocou poucos meses após o referendo de Junho de 2016.
Claro que os defensores da Brexit poderão tentar soluções que evitem a concretização das eleições europeias e que teriam que passar por um acordo de saída antes do fim de Junho, como já chegou a ser ventilado (e recusado por maioria parlamentar), mas parece ser muito tarde para que tal aconteça.
Assim, caso dos resultados eleitorais se infira que os britânicos desejam claramente um novo referendo, a UE poderá então magnanimamente conceder um adiamento do prazo actual (fim de Outubro) de modo a que o Reino Unido disponha dos 6 meses necessários para a respectiva organização - e que deveria preferencialmente ser proposto já com um projecto de acordo a ele agregado.
Teríamos assim uma solução no final do corrente ano - e talvez apontando para a permanência na União...
14.Abril.2019