"Brexit": "tea to be and do" (ti tu be an do...)
"Ti tu be an do", titubeando (ou pronunciado em "inglês" como "tea to be and do"), Parlamento, Governo, e Povo britânicos continuam penosamente a saga que uma escassa maioria referendou e cujos efeitos continuarão provavelmente a ser sentidos no Reino "Unido" durante muito tempo, com recordações amargas não só do modo ridículo como decorreu o processo - cujo resultado, após mais de dois anos de elaboração, não é ainda conhecido nem se sabe quando poderá ser - mas também da profunda divisão que se instalou na sociedade, e nas relações entre eleitores e eleitos.
Este último factor é motivo acrescido de preocupação no que respeita a um sistema político assente em círculos uninominais cujos deputados, em muitos casos, nåo têm mandato expresso para votarem a favor de determinadas
opções quanto ao modo de saída da União, ou - mais preocupante em termos de solidez das instituições democráticas - não seguem na Câmara dos Comuns a opinião maioritária de um círculo que no referendo se tenha inclinado num determinado sentido.
Este tipo de questões suscita o problema, já aflorado nestas páginas, sobre se em questões estruturantes não deveriam ser adoptados não
só o princípio de a respectiva validade depender de uma participação de eleitorado superior a - por exemplo - dois terços dos recenseados, como também de igual maioria ser necessária para a aprovação de uma opção de natureza fundamental.
Por outro lado, o titubear constante que se tem verificado em todo este processo, com o seu arrastamento para lá do prazo previsto, pode conduzir à caricata situação de o povo britânico vir a ser convocado a participar nas eleições para o Parlamento... Europeu!
Num quadro de saída a curto prazo...
Porém é tarde para se constituírem novas formações políticas que se propusessem intervir na campanha eleitoral, quer no sentido da permanência na UE, quer no oposto (existindo aliäs já duas que advogam exclusivamente a Brexit), pois seriam necessárias pelo menos seis semanas para poderem participar no processo.
E, com os dos principais partidos divididos internamente quanto à Brexit - e a um novo referendo - será difícil imaginar como poderia decorrer uma campanha eleitoral que teria que começar desde já.
E que papel desempenhariam os novos deputados britânicos no Parlamento Europeu até que ocorresse a Brexit (tanto os favoráveis a esta perspectiva, como os que a tal se opusessem)? E se a Câmara dos Comuns viesse a optar pela permanência ? Ou por uma saída não imediata ?
Todas estas ambiguidades titubeantes decorrem, como antes referi, de um sistema referendário frágil, e de um modelo de democracia representativa assente em círculos uninominais - em que a participação política de base não é suficiente para se aferir da qualidade dos representantes.
Numa época em que a televisão permite que a difusão de candidaturas em que o desempenho teatral e o financiamento sejam factores decisivos em escolhas, e em que a mega- difusão de informação não verificada permite distorções e manipulações de notícias em larga escala, só uma forma de regresso às nossas origens, em que o contacto directo assume o papel principal na eleição de quem nos representa e que é mandatado para escolher os representantes a níveis "superiores", é que nos pode conduzir a uma sociedade mais equilibrada.
E menos titubeante.
7.Abril.2019