"Ponto de vista": Os jovens, as Mulheres, e a História.

Os jovens, as Mulheres, e a História.

Tem sido público e notório que a juventude portuguesa não conhece suficientemente bem os períodos históricos que se viveram em Portugal desde o início do século XX, nomeadamente o que decorreu entre 1926 e 1974.

E, neste último, em particular no que se refere ao tipo de regime político, e à opressão que era uma das suas características mais salientes, nomeadamente no respeitante às liberdades de expressão, reunião, associação, e manifestação, do exercício das quais decorreria obviamente o desenho do sistema político.

Fala-se muito no papel que as Escolas desempenham ou que poderiam desempenhar melhor no aumento do conhecimento do regime que precedeu a instauração do actual.

Porém tal desempenho está sempre limitado por múltiplos factores que concorrem para a reduzida eficácia que conforme anteriormente acentuado se têm vindo a constatar.

As Mulheres - e por enquanto com especial relevo para as que em 1965 tinham 15 ou mais anos de idade - ainda podem porém contribuir para recordar quanto sobre elas incidia a opressão que caracterizava o regime político de então, lembrando as iníquas disposições que Amélia País recentemente descreveu no "Incursões", referindo que as mulheres casadas não tinham passaporte individual e só podiam ausentar-se para o estrangeiro com autorização escrita do marido, que as professoras do ensino primário tinham de ter autorização do governo para casar, e que só as chefes de família (solteiras ou viúvas) ou as que tivessem uma profissão remunerada é que podiam votar.

Tudo isto não pode ser esquecido; e outras igualmente significativas disposições poderão ser também evocadas.

E as Mulheres podem ter um importantíssimo papel na transmissão destas memórias, que só pelo que significam são susceptíveis de fazer lembrar - em particular às pessoas mais jovens - os tempos de opressão que tanto pesaram sobre gerações anteriores, algumas das quais ainda vivas.

Às comemorações do 45.º aniversário da sublevação militar que conduziu à instituição, em 1982, de uma democracia plena (em que pela primeira vez todas as Mulheres puderam votar) e não tutelada, terá faltado evidenciar o que no presente texto é referido, e que se deseja passe a ser acentuado, apelo que deixo a todos nós - e em particular às pessoas mais idosas e às Mulheres do nosso país.

28.Abril.2018