"Ponto de vista": As eleições europeias: um susto benéfico?


     As eleições europeias: um susto benéfico?

Os sinais de alarme já ressoavam há muitos anos, com as abstenções em crescendo, ultrapassando paulatina e gradualmente os 50% em quase todos os Estados-Membros da União Europeia, com rejeições referendadas de projectos de Constituição da UE, com débeis tentativas da Comissão Europeia para mostrar as vantagens de se estar na União, com os insucessos da adopção do Euro em Estados não suficientemente preparados para tal, com o fracasso das políticas de crescimento sustentado e de sólida criação de emprego, com a falta de perspectivas comuns em áreas sensíveis - nomeadamente a imigratória e a de asilo, com reflexos pronunciados em sentimentos xenófobos e em derivas autoritárias ao arrepio dos ideais expressos nos Tratados, e, mais recentemente, com o triste e deprimente espectáculo proporcionado pelo Reino Unido com a sua tentativa de saída de uma União para a qual escolhe deputados que poucas semanas depois irá despedir quiçá deixando no ar a sensação de que afinal uma nova maioria não a quereria abandonar.

O enorme susto que uma grande abstenção, aliada a um significativo crescimento de partidos e movimentos quer eurocépticos, quer de cariz xenófobo, ou mesmo tendencialmente anti-democrático, podem comprometer o projecto de um União Europeia solidária e tão forte no mundo quanto maior a sua coesão.

Há assim que pensar em mudar de rumo, corajosamente, após confirmação das carências há muito identificadas.

Há que colocar o Banco Europeu de Investimento (BEI) ao serviço do desenvolvimento de grandes projectos europeus e nacionais, a um nível de muitas centenas de milhares de milhões de Euros, bem como de outras tantas centenas envolvendo médias, pequenas e micro empresas, em colaboração com as Bancas nacionais - tal como está estatutariamente definido como modelo de intervenção para o BEI - situando o Banco Central Europeu na sua função nuclear de assegurar a solidez da moeda única e de controlar a inflação, sem se preocupar sobre se o preço da moeda actua ou não como motor de desenvolvimento.

Modelo este que deixa ao BEI - que não precisa de outros financiamentos que não sejam os que obtem no mercado de capitais - toda a liberdade para apoiar os projectos que a União desenhar no plano europeu, obviamente caracterizáveis pela sua solidez.

É certo que os Estados-membros avalisariam colectivamente tais investimentos, deixando que o Banco Central Europeu (BCE) se concentre nas suas responsabilidades de natureza monetária.

E também deixando toda a liberdade ao BEI para apoiar os projectos que as empresas nacionais, nomeadamente as de média e pequena dimensão, apresentarem e sejam caracterizados pela sua solidez, determinada pelo apoio a elas prestado por outras que sejam especializadas na elaboração de projectos, bem como pelas avaliações das instituições bancárias parceiras do BEI.

O desemprego, bem como o sub-emprego, seriam fortemente reduzidos, e o rendimento médio aumentaria ao fim de pouco tempo, contribuindo assim para afastar algumas das nuvens negras que pairam sobre a União Europeia e sobre a restante parte da Europa.

Outros factores haverá que abordar para esta mudança de rumo.

Abordagem que se fará em próxima intervenção.

12.Maio.2019.