A "Brexit",a Rainha, e uma Constituição não escrita.
Acumulam-se os indícios que apontam para a possibilidade de Boris Johnson, Primeiro-Ministro britânico, apresentar em breve no Parlamento uma moção de confiança visando a respectiva rejeição e a consequente dissolução do Parlamento - obviamente com a colaboração de deputados do Partido CConservador - mas com o propósito de porém não apresentar de imediato a sua demissão, como seria normal, bem como o de o fazer apenas depois da data (31 de Outubro) em que o Reino Unido sairia da União Europeia sem estar subordinado aos termos do projecto de Acordo negociado pelo Governo de Theresa May, ao qual Boris Johnson se opôs tenazmente. Ou seja, sem qualquer acordo.
A inexistência de uma Constituição escrita é que permite a possibilidade de ocorrerem situações deste tipo, o que até é paradoxal num país onde foi publicado um dos primeiros textos (séc.XIII) sobre a redução de poderes monárquicos - a "Magna Carta", sobre as liberdades a respeitar quanto aos súbditos,- mas que por outro lado tem tradições liberais e democráticas que têm permitido transições governativas cousensuais sem grandes problemas, como a que sucedeu aquando da queda do governo trabalhista e sucessão por Margaret Thatcher.
É por haver tais tradições que seria escandalosa a possibilidade de Boris Johnson não se demitir logo após perder a confiança da maioria dos deputados, bem como igualmente o será caso se perceba que a ameaça de tal procedimento possa constituir uma forma de pressão para forçar a União Europeia a aceitar um acordo desenhado por Boris Johnson de modo a surgir como o salvador de um novo Reino Unido.
O presente quadro político pode assim levar a rainha Elizabeth a ponderar a hipótese de não aceitar os projectos de Boris Johnson, dado constituírem uma menorização do Parlamento, portanto contra toda uma tradição de respeito por aquele órgão de soberania.
Tratar-se-ia de uma decisão da maior gravidade, que pelo simples facto de ser aventada poderá ser motivo suficiente para um recuo de Boris Johnson e do seu Cumming Rasputin...
Pobre Reino Unido, que David Cameron arrastou para fora da União Europeia ao tentar privilegiar o seu partido político, e que Boris Johnson está a colocar na insignificante posição de rastejante servidor dos EUA...
Pérfida Albion, que abdicou de ser um importante Estado-membro numa União que com ela poderia vir a desempenhar um relevante papel num G-4 que - tudo indica - se vai quedar num G-3...
11.Agosto.2019