"Ponto de vista": Prossegue a confusão sobre a Brexit.



    Prossegue a confusão sobre a Brexit.

As habilidades de malabarismo da dupla Boris Johnson - Dominic Cummings acabam de ser reforçadas por procedimentos nitidamente ditatoriais deste último, que na sua qualidade de assessor privilegiado do Primeiro-ministro britânico convocou uma colaboradora do Ministro das Finanças para inspeccionar os seus dois telefones por suspeitar do seu comportamento político; e, tendo chegado à conclusão que esta teria telefonado a opositores dos planos de Boris Johnson, solicitou a um polícia na rua que entrasse na sede do governo e conduzisse a funcionária ao exterior - procedimento absolutamente inacreditável que suscitou generalizados protestos.

Sintoma aparentemente menor, mas que indicia o estado de alta tensão que caracteriza actualmente a vida política no Reino Unido, caracterizada pelo "golpe de estado" conduzido por Boris Johnson, provavelmente por conselho de Dominic Cummings, em que foi aproveitada a circunstância de o Parlamento estar a terminar a legislatura para antecipar em 40 dias o habitual fim de sessão (em vez dos tradicionais 7 ou 8 dias), deixando apenas (!) a última  semana de Outubro para, a poucos dias do prazo para saír da UE, "permitir" aos Deputados a análise da situação - algo que poderiam fazer durante todo o mês de Setembro e princípios de Outubro.

Situação que o Governo apresentaria referindo ser inevitável a saída sem acordo, dada uma suposta intransigênciae da União Europeia, que se teria manifestado irredutível...

Ou então, caso a UE cedesse às principais reivindicações de Boris J., este convocaria eleições apresentando-se como o grande vencedor que teria vergado a UE a seus pés!

Tudo "legal", e a Rainha pouco podia fazer dentro de tal quadro - a não ser que considerasse que uma suspensão do Parlamento notoriamente orientada para lhe retirar tempo para discutir a Brexit - circunstância tão excepcional - ia contra o espírito da que tem vindo a ser, nomeadamente nos últimos 400 anos, a constituição politica do Reino Unido.

Note-se que escrevi "constituição política", e não "Constituição", pois esta, não estando escrita, é "constituída" sucessivamente por um emaranhado de práticas e de leis que visam a manutenção e o aperfeiçoamento da democracia, na qual o Parlamento assume o papel mais relevante na política britânica.

O que, aparentemente, não terá sido considerado por Isabel II e pelo seu Conselho Privado (para cuja reunião o seu presidente não terá convocado os membros pertencentes à Oposição parlamentar...).

Seja qual for o resultado deste folhetim, estamos a assistir a um lamentável episódio numa Europa que, assumindo e corrigindo os seus erros de tempos passados, tem estado a mostrar os caminhos da liberdade e da democracia.

Episódio originado em manipulações de cariz autoritário como as que conduziram ao processo da Brexit e que agora, acompanhadas por "salvadores" de "inimigos" de diversos tipos, começam a proliferar por todos os lados.

Triste exemplo que o Reino Unido tem vindo a dar à Europa e ao mundo, mostrando como as ambições pessoais de dois governsntes (David Cameron, e Boris Johnson) se sobrepuseram ao que devia ser o seu  sentido de Estado, e aos interesses da União Europeia a que o Reino Unido pertence - e que também lhe são inerentes e essências.

Mas há soluções para a Democracia na Europa. Lentas, é certo.
Mais uma razão para não serem adiadas.

1.Setembro.2019