Ponto de vista": Bancos, arrendamento, Política.


       Bancos, arrendamento, Política.

Pedro Santos Guerreiro, ex-director do Expresso e agora seu colunista permanente, abordou nas suas duas últimas intervenções dois assuntos que entre outros muito nos fazem pensar sobre a Política em Portugal.

Um deles pode resumir-se, por exemplo,  na seguinte frase: "não há dinheiro para colmatar graves deficiências no serviço nacional de saúde mas há sempre dinheiro para os Bancos".

Não foi exatamente assim que foi escrita, mas quase.

Referia-se precisamente aos apoios do Estado à banca, cuja conta - referida aos últimos 12 anos - já atinge o astronómico valor de 24 mil milhões de euros.

O outro assunto a que se referiu foi o do arrendamento habitacional, que devido a um conjunto de disposições legais, desde a liberalização do mercado de arrendamento à concessão de "vistos"  para residência em Portugal para estrangeiros mediante compra de habitação de alto valor financeiro, conduziu ao agravamento das condições habitacionais para jovens para, por exemplo, professores e médicos, e para pessoas mais idosas cujos contratos de arrendamento terminam sem que tenham disponibilidades financeiras para suportar enormes aumentos de renda que muitos senhorios exigem.

Com consequências que, apesar de disposições governamentais visando minorar situações mais gritantes,  deixam (e cito):"jovens sem capacidade de sair de casa dos pais para serem pais da sua casa, velhos despejados no fim de contratos, cidadãos forçados a chamar a camioneta de mudanças como se viver na zona onde sempre viveram fosse um luxo asiático".

Muito outros assuntos poderiam ser acrescentados mas os que foram permitem dizer-se  que "Algo está mal na República de Portugal."

Se acrescentarmos que nos últimos 20 anos a dívida externa nacional aumentou exponencialmente, reduzindo as possibilidades de investimento que possam contribuír para o crescimento da economia necessário para o pagamento de tal dívida, podemos repetir - de outro modo, é certo - "que algo vai mal no governo nacional".

Não importa que tenha sido neste ou naquele governo, pois de um modo geral os governantes (entenda-se deputados, membros do governo, e poderes presidencial e judicial) têm procurado aparentemente dar o seu melhor para que o país singra aceitavelmente na condições a que chegou, muitas causadas por erros seus, outras por mal fortuna, e - outras ainda - por errado amor frequente.

Neste quadro, perguntar-se-á o que deve e pode ser feito para melhorar a governação de Portugal.

A resposta é simultaneamente complexa e simples: temos que aperfeiçoar o método para a escolha dos responsáveis pela governação.

Tal passa pelo aumento da participação dos cidadãos na vida política que, não esquecendo o insubstituível papel da democracia representativa, permita que as escolhas sejam feitas a partir da base do sistema democrático: o poder local.

Que verdadeiramente permite um melhor conhecimento dos eleitos, reduzindo os efeitos dos aspectos negativos de alguns meios de informação pública, sejam eles a televisão ou as chamadas redes sociais - uma e outras insubstituíveis no que diz respeito ao aumento da informação, uma e outras aperfeiçoadas no sentido da detecção de informações manipuladas.

Não há outro caminho.

29.Dezembro.2019