Ponto de vista sobre a Pandemia da Covid-19 e a guerra nuclear (Alm.Nobre de Carvalho)

O autor das presentes net-páginas tem o maior gosto em publicar o seguinte ponto de vista do Almirante João Nobre de Carvalho,  extremamente oportuno e avisado no momento difícil que atravessamos:


      A PANDEMIA DO COVID19 E A GUERRA NUCLEAR, DOIS CAVALEIROS DO APOCALIPSE

Quando for ultrapassada esta pandemia provocada pelo Coronavirus COVID19, a população mundial, tendo passado por grandes sacrifícios devido ao confinamento forçado, à perda prematura de entes queridos e ao desemprego, poderá ficar mais sensibilizada para poder avaliar melhor os efeitos, também planetários das explosões  que uma guerra nuclear provocaria, muitíssimo mais gravosos do que os originados pelo misterioso vírus.
Um conflicto nuclear pode ser deliberadamente desencadeado por um Estado que possua ogivas nucleares adaptáveis a mísseis capazes de as lançar sobre outro, por sua própria iniciativa ou para se antecipar a um ataque com esse tipo de armas que julgue iminente, nomeadamente a partir de submarinos.  Neste último caso, note-se o aumento da probabilidade de ocorrer uma avaliação da ameaça deficiente, facilitada pela ação de “Hackers” profissionais e pela disseminação criteriosa de notícias falsas, as tão propaladas “Fake news”. Um ataque nuclear poderá também ocorrer devido a uma inusitada sucessão de falhas de segurança ou por uma sofisticada ação deliberada de ciberguerra.
Actualmente um número crescente de países, nem todos seguindo regimes políticos democráticos, possuem arsenais nucleares e meios de lançamento ou estão em vias de alcançar essa capacidade, também desejada por algumas tenebrosas organizações terroristas.
Por outro lado, a  previsível queda do Produto Interno Bruto mundial, o incremento que se observa na falta de diálogo no plano internacional, devido ao estrangulamento financeiro e consequente perda de influência da Organização das Nações Unidas, ao auto-isolamento a que alguns Estados autocraticamente se remetem e a ambição hegemónica da superpotência asiática, geram um caldo de cultura propício a um aumento da conflitualidade no nosso planeta azul.
 Enquanto o COVID19, invisível a olho nú, surfa a gigantesca onda da globalização, galgando sem cerimónia fronteiras geográficas numa disseminação pandémica, os governos, embora com atraso, foram tomando cada um por si, medidas de proteção das suas populações, isolando-se, tentando proteger os seus cidadãos e adaptar os sistemas de saúde, procurando simultaneamente catalizar a descoberta de tratamento e vacina.
Ora as explosões nucleares, para além das devastadoras destruições provocadas entre os contendores, geram nuvens de poeiras radioactivas, o“Fall out”, que transportadas nas asas de Eolo  aproveitando as diferenças de pressão entre as massas de ar atmosféricas, percorrerão o planeta, dizimando seres humanos e animais, incluindo os nascituros, contaminando insidiosamente, durante muitos anos, as águas, os solos, o manto vegetal e os alimentos.
 As bombas atómicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em Agosto de 1945 pelo Bombardeiro B-29 Enola Gay dos EUA no fim da II Grande Guerra Mundial e os desastres ocorridos nas centrais nucleares de Chernobyl, na União Soviética (hoje território da Ucrânia), em Abril de 1986 e em Fukushima, no país do sol nascente, em Março de 2011, ambos atingindo o nível 7 na Escala Internacional dos Eventos Nucleares, dão-nos uma pálida ideia dos  efeitos medonhos da contaminação radioactiva.
 Um conflicto nuclear não afectaria apenas os Estados beligerantes mas outrossim muitos outros, que não disporiam de tempo suficiente para construir abrigos subterrâneos para as suas populações, nem para dispor de equipamentos de proteção individual suficientes  para minimizar o contágio radioactivo galopante. Uma vez saído da garrafa, o Génio do Mal não é susceptível de ser recapturado.
 Todos estes efeitos apocalípticos seriam naturalmente acrescidos aos do aquecimento global causados pelas alterações climáticas em curso, para as quais a humanidade parece estar já sensibilizada, a avaliar pelo acolhimento recentemente proporcionado à jovem Greta Thunberg por altas entidades e organizações a nível mundial, promovendo a aplicação do Tratado de Paris no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, aprovado em 12 de Dezembro de 2015.
Reflectindo a política internacional os interesses dos Estados, constata-se a total incapacidade dos governantes e de uma ONU esvaziada de poder, em conseguir suster a corrida ao armamento atómico, face aos gigantescos interesses envolvidos e à crescente tendência para o auto-isolamento por parte de importantes potências marítimas na Europa e na América. Neste cenário, desponta no horizonte o perfil ameaçador do segundo cavaleiro do apocalipse, o espectro de um conflito nuclear, quando a humanidade mal se refez da nefasta ação pandémica do primeiro.
Neste enquadramento de loucura mansa, as pessoas, sensibilizadas pela útima pandemia, terão de pressionar fortemente os seus governos, nomeadamente nos Estados democráticos detentores da arma nuclear, para que promovam a realização de um Convénio Internacional para elaboração de um Tratado para total abolição das armas nucleares. O Secretário-Geral da ONU, um distinto português, respeitado tribuno, poderia talvez dirigir-se directamente às populações, utilizando as possibilidades de comunicação ímpares hoje existentes, obtendo apoios de outras personalidades de relevo na inteligentsia mundial, explicando e exortando as pessoas para exigirem ação. A adolescente activista ambiental  sueca apontou o caminho para o combate às alterações climáticas mas também urge evitar uma guerra nuclear.
 O poder da Palavra continua a ser determinante e não pode ser desprezado. Antes que seja tarde.

João Nobre de Carvalho