A única ambição de Trump.
Cada dia que passa torna-se mais evidente que a única ambição de Trump é a sua reeleição e que todas as suas intervenções políticas se pautam por esse objectivo, e não pelo de dirigir os EUA.
Em Janeiro tudo lhe parecia correr de feição, após ter sobrevivido à impugnação com a vergonhosa colaboração da maioria republicana no Senado, apoiado numa economia a crescer e numa taxa de desemprego em descida sustentável, e sem uma alternativa suficientemente credível pelo lado democrata.
Inesperadamente surge a pandemia, e apesar de avisado de que a reacção que se impunha era de um rápido e poderoso confinamento inicial, não confiou nos seus especialistas e cometeu o erro do atraso no ataque a uma situação cujas consequências se viriam a traduzir numa profunda crise interna decorrente da sua falta de capacidade de direcção e de trabalho em grupo com os governadores dos Estados da União.
Com um aumento progressivo da mortalidade pandémica lança-se num acelerado processo de acusações a tudo e a todos, tentando sucessivas acções com o objectivo de impor as suas perspectivas de reabertura da atividade económica - para não se recordarem as relativas às suas opiniões em matéria de medicamentos, em que a lixívia chegou a assumir um papel de relevo - e não faltando obviamente os inimigos externos, em especial a China e a Organização Mundial de Saúde, chegando ao inacreditável ponto de se retirar deste organismo, que pelo menos quanto ao apoio às comunidades mais desprotegidas necessitaria e necessita das contribuições financeiras mundiais mais importantes.
Com as sondagens eleitorais a mostrar que desciam notoriamente as suas possibilidades de reeleição, surge o triste episódio da morte de G.Flynn, que suscita fortissima reacção popular com os inevitáveis saques e agitação.
E em vez de procurar um discurso e postura visando a correção das injustiças e sarar as feridas existentes na sociedade, terá pensado "que sorte! irei apresentar-me como sendo o candidato da Lei e da Ordem"; e com a incendiária colaboração da Fox News, talvez os meus apoiantes para-militares ajudem a instabilizar as manifestações que ocorrem bem como a incentivar a realização de outras, provocando a continuação da agitação popular até que as "forças da ordem" as façam cessar.
O que, aliado à inevitável retoma da economia - mesmo que ainda com débeis passos - lhe criariam esperanças de vencer as eleições.
E obviamente recorrendo a todos os estratagemas possíveis - entre eles o da contestação judicial ao uso do voto por correspondência (que pensa que não lhe seria favorável)...
Escaparia assim ao processo judicial que Joe Biden afirmou que lhe iria instaurar, hipótese que notoriamente o atemoriza.
7.Junho.2020