Ataque a Conacri: foi há precisamente 50 anos.
Há cerca de um mês entrou em contacto comigo uma jornalista da revista Sábado, manifestando o desejo de me entrevistar a propósito do 50º aniversário da operação "Mar Verde", destinada a depôr Sekou Touré (Presidente da República da Guiné) colocando em seu lugar o Coronel Thierno Diallo -membro da oposição política (FNLG) daquele país - , destruir as vedetas da respectiva Marinha de Guerra e as atribuídas ao PAIGC (Partido Africano pela Independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde) e capturar o seu Secretário-geral Amílcar Cabral, e libertar os prisioneiros portugueses que se encontravam em Conacri.
Embora pouco inclinado a aceitar solicitações deste tipo, acedi, tendo porém constatado no próprio dia da publicação que em vez da entrevista estava um artigo sobre o mesmo tema, porém assinado por António Luís Marinho, Autor de um livro sobre a citada Operação militar - aliás o melhor até agora publicado.
Apenas na tarde daquele mesmo dia é que recebi uma mensagem escrita da referida jornalista explicando ter havido uma descoordenação interna (referindo-se aliás a uma prevista publicação da revista para o dia seguinte...) e dando conta da sua intenção de aproveitar a entrevista para a publicar mais tarde.
Intrigado sobre tão estranho episódio, não tendo recebido mais explicações, e tendo presente que o Dr.António Luís Marinho tinha e tem capacidade e dados que lhe teriam permitido elaborar algo mais interessante do que o resumo que surgiu, creio que devo dar a conhecer desde já alguns dos aspectos inéditos a que me referi aquando da entrevista não publicada, e para além do que nestas páginas já escrevi sobre a operação Mar Verde.
Assim, haveria que salientar as reflexões que o coronel Diallo me confidenciou manifestando a sua surpresa por não ter sido designado para participar no grupo de combate encarregado da neutralização de Sekou Touré, pois tal seria lógico uma vez que seria o seu sucessor como Presidente da República - pelo menos a título provisóriio.
E, obviamente, sobre o mistério da proclamação a ser lida na Radio - já elaborada e em poder do Comandante Calvão - pois não há dados sobre se teria sido entregue ao Coronel Diallo (uma vez que não é conhecida nenhuma alusão dele a esse respeito).
Igualmente, as confidências em Paris (1972) de H.Assad, que me convidou para jantar em sua casa e em que discorreu sobre as prováveis limitações políticas do seu Governo, e as intenções de tal decorrentes, não propriamente coincidentes com as que seriam as do Governo português.
Entretanto aguardo que o Director da revista tome a iniciativa de me explicar o que se passou.
22.Novembro.2020
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