EUA: ganhe quem ganhar, o ódio prevalecerá ?
Tal como já aqui foi referido em 18 de Outubro, os comícios eleitorais de Donald Trump têm sido caracterizados por forte agressividade verbal (que chegou a apelos fortes para que fossem presos Joe Biden e seu filho Hunter), bem elucidativa do que pensa parte apreciável da população dos Estados Unidos da América, país que então rebaptizei como Estados Desunidos da América.
Imaginemos então que Trump declara na noite de 3 para 4 de Novembro que não reconhece os resultados que dão a vitória a Joe Biden, argumentando que o voto por correspondência permitiu uma viciação generalizada, citando alguns exemplos - não confirmados, ou de duvidosa caracterização - bem como invocando também o facto de muitos boletins de voto por correspondência ainda estarem por contar, mesmo em Estados em que o Supremo Tribunal o autorizou (decisão que aliás o desgostou profundamente, levando-o a criticar acidamente os Juizes que ele tinha escolhido para fazerem parte daquele Tribunal).
E que continuaria tal ofensiva de descredibilização dos resultados eleitorais tentando forçar alguns Estados cuja Administração é controlada pelo Partido Republicano (e onde a votação tivesse ficado perto do empate), a nomear republicanos como seus representantes no Colégio Eleitoral que escolhe o Presidente, dando provavelmente origem a uma batalha jurídica que terminaria no Supremo Tribunal, em processo análogo ao que ocorreu na Flórida aquando da eleição de G.W.Bush.
Porém, tal processo poderia não ser conclusivo caso tal situação não fosse repetida noutros Estados, vindo no final o Colégio a eleger J.Biden.
O que poderia conduzir D.Trump, acossado pela possibilidade de - regressando ao mundo dos negócios - ficar ainda mais atolado em dívidas, encetar uma fuga para a frente e declarar que não aceitaria o resultado, mantendo-se na Presidência - o que não deixaria de provocar uma fortíssima crise política dado que a Presidente da Câmara dos Representantes certamente apelaria ao Supremo Tribunal, e quiçá às Forças Armadas, no sentido de ser restabelecida a legalidade.
Ou a que D.Trump, embora saindo da Presidência, continuasse a afirmar que os resultados tinham sido obtidos de modo fraudulento, apelando a que os seus apoiantes se organizassem com vista às eleições de 2024, apelo esse expressado no seu estilo mais agressivo, e que dadas as bovinas atitudes observadas nos seus comícios permite imaginar todos os tipos de reacções, inclusivamente violentas.
Por outro lado, se D.Trump ganhar no Colégio Eleitoral, e o voto popular for, como se prevê, inequivocamente a favor de J.Biden, ocorrerá uma situação semelhante à que sucedeu com H. Clinton, mas que se desenvolverá num ambiente político totalmente diferente, em que são fortíssimas as tensões na sociedade americana, não parecendo que D.Trump consiga acalmar um grau de conflitualidade cujos limites não são fáceis de calcular.
A concluir: mas caso J.Biden venha a ser eleito também não parece que tenha o perfil apropriado para o necessário apaziguamento que se requer ocorra naquele País.
Ou seja: há que esperar mais 4 anos - se entretanto por qualquer inesperada razão o mandato - seja ele qual for - vier a ser interrompido.
1.Novembro.2020 (dia de Finados...)