Comandante Abrantes Serra - "in memoriam".
ISCTE, Abril de 2016.
Num anfiteatro quase repleto de uma assistência - na sua grande maioria, universitária, que aguardava a apresentação pela Professora Doutora Luísa Tiago de Oliveira, organizadora de uma sessão-debate sobre um relevante documentário da RTP, da autoria do Prof. Doutor Jacinto Godinho sobre a DGS/PIDE, entro - sob sepulcral silêncio - amparando o Comandante José Abrantes Serra, que penosamente tentava andar, e que eu tinha ido recolher a sua casa a fim de estarmos presentes em tal evento e comentarmos possíveis intervenções das pessoas assistentes, o que viria a ocorrer apesar de ser rara a sua presença em acções públicas.
Sentou-se.
E de imediato a assistência o saudou com uma prolongada salva de palmas.
Foi a última vez que o vi, tendo embora continuado a manter contacto telefónico em que me apercebia da sua força de vontade em lutar contra a doença de que padecia.
Recordava de vez em quando os momentos vividos na manhã de 26 de Abril, em que as Forças de Fuzileiros que comandava se dirigiram ao Chiado a fim de reforçarem as que cercavam a sede da DGS/PIDE, para tal levando uma "bazuka" caso fosse necessária, tendo eu sugerido que se dirigissem de imediato para o Forte de Caxias, uma vez que eu já tinha recebida a informação do Director, Major Silva Pais, de que na sede não seriam colocados entraves à entrada das Forças de Fuzileiros (comandadas pelos então 1º Tenente Fernando Vargas de Matos, e 2º Tenente António Lobo Varela), tendo-me solicitado que de tal informasse o Comandante Carlos de Almada Contreiras, Oficial que coordenava a partir do Centro de Comunicações da Armada as acções das Forças de Fuzileiros visando a DGS/PIDE.
E recordava também os momentos em que, acompanhado pelo seu Oficial Imediato, 1ºTenente Luís Pedreira Carneiro, e 3ºOficial Tenente João Costa Xavier, tinha ajustado com as Forças de Paraquedistas comandadas pelo então Capitão Paraquedista Mário Pinto (quem hoje me deu a conhecer a triste notícia do falecimento do Comandante José Abrantes Serra), os procedimentos de cooperação a manter, e diversos episódios que viveu enquanto comandou as Forças ocupantes do Forte-Prisão.
Ao falecer, deixa-nos a memória de um Oficial que, afável, não deixava de ser determinado, e sempre orgulhoso por ter participado nas operações militares que levariam à instituição da Democracia em Portugal.
21.Janeiro.2021
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