Ponto de vista"- Um novo jornal. Independente. Precisa-se.

 Um novo Jornal. Independente. Precisa-se. 


 A cada vez mais preocupante situação dos meios de informação pública face à crescente desinformação e ao desconhecimento dos seus verdadeiros possuidores leva-me a publicar novamente o texto que inseri nestas páginas há cerca de 3 anos, obviamente com algumas modificações decorrentes da velocidade acelerada a que esta situação tem sido submetida.

As recentes notícias sobre a transferência de dados pessoais da Whatsapp para o Facebook, e a propósito de  interferências no Twitter e noutros detentores de meios de informação pública, vieram aumentar a desconfiança sobre a credibilidade da informação circulante, a qual é retransmitida nas chamadas "redes sociais" a uma velocidade assombrosa, tanto maior quanto menos credível, e sem apresentação de pontos de vista contraditórios.

Assim, volto a assinalar que cada vez é mais importante a ponderação dos cidadãos sobre a qualidade e a fiabilidade da informação que lhes é transmitida, em particular por meios audio-visuais (cada vez mais relevantes), uma vez que as técnicas de manipulação de imagens e sons atingem actualmente níveis de sofisticação absolutamente impressionantes.

    Já em 2010, nestas mesmas páginas, tinha tido a oportunidade de dar a conhecer (e pode-se ver a partir daqui *) como se tinha fabricado a filmagem de um acidente de autocarro - que não tinha acontecido - em Lyon e que é uma boa lição sobre o cuidado que devemos ter na apreciação da informação que nos chega, pois se há 10 anos os detentores dos meios de transmissão de informação estavam relativamente bem identificados, agora são em muito maior número e sofisticada tecnologia.

    Acresce o facto de tais meios - nomeadamente correio electrónico, blogues, redes sociais electrónicas, e outros sistemas -  permitirem a proliferação de informação ou de documentos de reduzida credibilidade - para não referir os que envolvem mistificação - e a publicação de comentários anónimos com a inevitável probabilidade do insulto ou da falta de fundamentação.

    Debate-se entretanto o jornalismo com o problema da manutenção gratuita das versões "on-line" dos orgãos de informação escrita face à vertente da publicidade paga, problema que chegou às próprias estações de televisão e radio dado o aumento da banda larga na Internet, suscitando então quer uma maior presença da publicidade comercial quer o pagamento do acesso aos conteúdos; ou, o que parece ser mais provável, um misto das duas opções.

    O facto é que o cidadão desejoso de obter a informação com maior grau de credibilidade terá que a procurar onde existam jornalistas de mérito, que obviamente têm que ser pagos tanto através da aquisição da informação produzida, como também dos rendimentos decorrentes de publicidade.

    Por outro lado, permanecerá a dúvida sobre se os possuidores dos meios de informação pública interferem - mesmo que subliminarmente - no trabalho dos jornalistas, levando a que a informação transmitida não seja isenta e que a independência seja algo posta em causa, pois são diversos os casos em que não são renovados contratos de prestigiados profissionais na sequência de discordâncias relativas ao teor de artigos, ou mesmo à simples publicação de notícias que não foram do agrado dos principais detentores de tais meios, situações que criam dúvidas sobre a consistência geral da informação surgida.

    Não é fácil assumir-se uma postura de verificação permanente, nomeadamente através da comparação de fontes, sobre o que nos vai sendo transmitido, pois o tempo gasto para tal torna tal perspectiva impossível de ser concretizada de maneira constante.

    Tenho assim reflectido sobre o modo como se poderia tentar uma solução que pudesse produzir um jornalismo de qualidade e com o maior grau de independência possível, e discutido este problema com diversos prestigiados Jornalistas portugueses - alguns dos quais participantes na inovadora experiência que foi "O Jornal", na década de 70, que de certo modo me inspirou quanto ao modelo que poderia ser tentado.

     Assentaria na pressuposição de que em Portugal haverá pelo menos 10 mil pessoas que desejariam participar na fundação de um jornal cuja versão inicial seria electrónica, e que se pautaria por critérios de independência e credibilidade da informação apresentada, e pela pluralidade das opiniões publicadas.


    Contribuiriam com participações individuais de - por exemplo - 1000 euros para o capital inicial, sendo o quantitativo total (10 milhões) distribuído igualmente pelos cerca de 50 profissionais convidados a participar no projecto por um grupo de Jornalistas fundadores, altamente credenciados, que previamente publicariam uma adequada carta de intenções que referiria a existência de uma secção para esclarecimentos sobre informações eventualmente distorcidas - à semelhança do que é praticado pelo "Polígrafo".

     Como ė evidente, o número de 10000 poderia ser aumentado, e modificados os quantitativos de participações em função das disponibilidades financeiras individuais.

    As receitas seriam obtidas não só por assinaturas (sendo as dos financiadores iniciais cobradas a um preço simbólico) como também pela aquisição de exemplares ou de documentos publicados, e obvia e igualmente por pagamento de publicidade.

     Não se trata de um projecto fácil de afinar e de executar.

     Mas poderá corresponder a necessidades que tendem a aumentar: a independência e a credibilidade da informação - uma das bases da Democracia.

     E tal não tem preço.

     6.Agosto.2017 (publicação inicial)
     7.Fevereiro.2021.