Texto do Coronel de infantaria Nuno Pereira da Silva:
"O Hospital das Forças Armadas e a Pandemia
Desloco-me, infelizmente, amiúdes vezes ao Hospital das Forças Armadas (HFAR) , e hoje fiquei siderado com o que me foi dado a observar, está tudo de pantanas, com as enfermarias completamente repletas de doentes com Covid, os refeitórios do pessoal e bares transformados em enfermarias, sem condições sequer para higienizar os doentes, pois não há sanitários nem duches.
Quase todos os médicos e enfermeiros militares, de todo o país e do hospital, independentemente da sua especialidade, foram convocados para fazer face ao Covid, o que levou à paralisia do Serviço de Saúde Militar e de quase todo o Hospital.
Dois contentores frigoríficos gigantes foram já instalados para colocar os mortos, enfim uma catástrofe, e enormes tendas foram levantadas no Heliporto, que desativaram, para se albergarem doentes Covid, e instalarem os refeitórios do pessoal, que foram transformados em enfermarias.
Não sei se os doentes transferidos para o HFAR são doentes terminais, transferidos doutros hospitais para este, mas a ideia que me dá é essa, a de um hospital de fim- de- linha que, devido a estar resguardado das investidas da Comunicação Social, por serem instalações de acesso condicionado, os doentes que por lá falecerem não provocarão grande alarido social, nesta catástrofe de que nos sonegam a informação real do número de mortos.
Não costumo ser alarmista, mas nem o Hospital Militar de Bagdade, montado pelos USA para a guerra do Iraque, onde fui algumas vezes, tinha condições de material e equipamento tão precários.
Tenho pena que o Hospital Militar Principal (HMP) na Estrela, a funcionar até Aguiar Branco, no governo de Passos Coelho, o ter mandado encerrar, e transferir à pressa todos os serviços para o antigo Hospital da Força Aérea, um hospital com exíguas capacidades e exíguo espaço, a necessitar duma prometida, mas não concretizada ampliação, pois na altura o HMP estava bem equipado, com um serviço de urgências novo, uma casa de saúde nova, com camas e instalações adequadas para cerca de seiscentas camas.
As Forças Armadas servem para, de preferência não serem usadas, mas em casos de guerra ou de catástrofe têm de ter capacidades para a elas responder, sendo a reserva da nação. Critérios meramente financeiros e de merceeiro, não são formas adequadas de se gerir um país, conforme atualmente podemos constatar.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Inf "
(Texto recebido em 6.Fevereiro, e enviado por um Camarada d'Armas do Coronel Nuno Pereira da Silva)