Sobre o falecimento de Jorge Coelho.

 Sobre o falecimento de Jorge Coelho.


Estranha maldição, a de súbitos e inesperados falecimentos que se abateu sobre alguns dos principais quadros de dirigentes do organismo (o então conhecido STAP, e depois STAPE) que teve, a partir do final de 1974, a incumbência de concretizar os processos eleitorais, e que, sob diversas designações, tem mantido até hoje uma sólida estrutura de apoio ao sistema eleitoral.

Mateus Roque, que me substituiu quando em 1977 (findo o primeiro ciclo de eleições constitucionais e terminado o primeiro período de intervenção militar no país) decidi regressar à Marinha, foi o primeiro a deixar-nos após férrea luta contra uma doença que nos surpreendeu quando lhe era augurada uma brilhante carreira na Administração Pública.

Jorge Miguéis foi o seguinte a falecer (não sem que dois Ministros da Administração Interna - Almirante Almeida e Costa, e Coronel Costa Braz - tivessem sido alvo de doenças que conduziram ao seu extemporâneo falecimento) quando, após mais de 40 anos na direcção superior  dos processos eleitorais, o aproveitamento da sua larga experiência na respeitada Comissão Nacional de Eleições foi subitamente interrompido por um fatal ataque cardíaco que não permitiu que lhe fosse atribuída em vida uma justíssima condecoração pela qual pugnei três anos junto de diversas entidades - a muito elevado nível no Estado - que poderiam contribuir para a respectiva  concretização, e de cujo processo de póstuma atribuição não tenho tido conhecimento quanto ao seu "andamento" - enquanto (tal como André Freire) um dos primeiros subcritores - informação que pensava e penso ser acto de lógica e elementar cortesia sobreponível a qualquer "covidiana" desculpa.

Meu estimado Amigo Jorge Coelho: estou certo de que a generosidade do seu coração me perdoará ter aproveitado a triste circunstância de ter sido obrigado a abandonar o nosso convívio, e a assim deixarmos de poder apreciar a sua bonomia, para falar dos seus companheiros de sempre, com quem procurei discretamente privar, se bem que com alguma reserva cujos motivos terão mais tarde ou mais cedo intuído.
Referirei contudo o quanto apreciei a sua capacidade de desembaraço ao ter assumido a responsabilidade - que lhe foi transmitida pelo Comandante Camões Godinho aquando da preparação das eleições para a Assembleia Constituinte - de assegurar toda a logística que permitiu que as primeiras eleições constitucionais decorressem sob um padrão igual, quiçá melhor, ao das Constituintes.

E, ao observar e ouvir o modo - afável e firme - como se dirigia em contacto telefónico ao então Governador Civil de Braga, Engº Eurico de Melo, e também cordata, mas determinadamente, ao Cabo da GNR que exercia as funções de condutor da viatura atribuída ao STAPE, atribuí-lhe, tendo em consideração alguns sinais de salutar ambição que já denotava, e em singela premonição do que se concretizaria vinte anos mais tarde, a pasta de ministro "stapiano" da administração interna...

Adeus, Jorge Coelho.
Deixa-nos saudades.

8.Abril.2021

Em tempo, e ainda a tempo: o Senhor Coronel Mário Stoffel Martins, que desde a primeira hora acompanhou no Gabinete do Ministro da Administração Interna (então o saudoso Coronel Manuel Costa Braz) o processo da preparação das eleições para a Assembleia Constituinte, foi a primeira pessoa a manifestar-me a sua tristeza pelo funesto acontecimento da morte de Jorge Coelho.
.....................