.Otelo S.Carvalho, 26 de Abril de1974.
Final da manhã.
O então Major Otelo S. Carvalho considera estarem terminadas as operações militares que dirigira desde o dia 24, coordenando as acções das Forças do Exército e da Força Aérea no âmbito da sublevação militar de 25 de Abril de 1974, e inicia o regresso à sua residência.
O então Capitão-tenente Carlos A. Contreiras inicia igualmente o seu caminho de retorno a casa após também duas noites sem repouso, coordenando as acções das Forças de Fuzileiros que viriam a ocupar, em conjunto com as de Cavalaria 3 (Estremoz), a sede da DGS/PIDE, na Rua António Maria Cardoso, já no princípio da manhã de 26.
Tinha combinado encontrar-se junto à estátua do Duque da Terceira (ao C.Sodré) com o Major Otelo S.Carvalho, para verificarem se ainda estavam na Rua do Alecrim as duas viaturas Panhard (de peças de artilharia de 75 mm) cuja presença tinha solicitado ao Major Otelo S. Carvalho na sequência de pedido de reforços formulado naquela madrugada pelo autor destas linhas (coordenador das citadas Forças de Fuzileiros) dado serem ainda desconhecidas as intenções da sitiada DGS/PIDE caso fosse decidido um assalto visando a respectiva ocupação.
Encontro simbólico,
Profundamente simbólico.
Os dois principais coordenadores militares das operações que levaram ao derrube do regime político autoritário que acabava de ser deposto regressavam tranquila e anonimamente às suas residências, em vez de ocuparem rapidamente as cadeiras do poder político, enquanto os Generais e Almirantes a quem tinham entregue o Poder político rapidamente se instalavam, acompanhados pelos seus agora numerosos ajudantes, no Estado-Maior General das Forças Armadas (no Palácio da Cova da Moura).
Nâo imaginariam talvez que iriam ambos "cumprir" o frequente percurso dos militares responsáveis por golpes de Estado, que na sequência de certas opções tomadas são afastados das suas carreiras profissionais.
Mas: nâo são esquecidos por quem os liberta de regimes repressivos.
Otelo Saraiva de Carvalho faleceu hoje, num dia 25: em Julho de 2021.
E certamente com um sorriso irónico, ao antever os sentimentos contraditórios que um seu falecimento suscitaria.
Mas sabendo que ficaria na memória colectiva como o principal responsável pela sublevação militar que poria termo a um regime politico inimigo da democracia.
25.Julho.2021
(Texto baseado em anterior, de 22 de Junho de 2020).