Ponto de vista": O Presidente da Junta de Chefes de Estado-Maior das Forças Militares dos EUA e as suas relações com os Presidentes dos EUA.

    O Presidente da Junta de Chefes de Estado-Maior das Forças Militares dos EUA e as suas relações com os Presidentes dos EUA.


A recente revelação de que o General Milley, Presidente da Junta de Chefes de Estado-Maior das Forças Militares dos EUA (tradução de "Joint Chiefs of Staff" que procura ter em consideração as suas funções e as respectivas limitações) telefonou mais que uma vez ao seu par na China, entre 4 de Novembro de 2020 e 20 de Janeiro de 2021, para lhe garantir que os EUA não desfereriam nenhum ataque militar à China, suscita algumas reflexões, entre as quais a de recordar que há um ano escrevi nestas páginas um texto sobre as atitudes que tanto o General Milley como o General Hyten (enquanto Comandante das Forças Estratégicas nucleares dos EUA) tinham tomado a propósito de afirmações de Don Trump, e de que apenso desde já alguns excertos - até porque o General Hyten é desde Novembro de 2019 o Vice-Presidente da Junta de Chefes.

Eis os excertos citados:

"O General Milley, Comandante das Forças Armadas dos Estados Unidos da América, e o General Hyten, Vice-Comandante, já deram sinais suficientes do que é a sua interpretação do papel das Forças Armadas numa Democracia.

O General Milley, porque se apressou a pedir desculpa de ter estado ao lado de D.Trump quando este se deslocou a um local onde decorria uma manifestação pacífica que momentos antes tinha sido dispersada através de recurso abusivo a forças de segurança.

E não se deve esquecer que, interrogado há algum tempo sobre eventuais intenções de D.Trump de lançar ataques sobre 52 locais culturais do Irão, respondeu secamente que "seguiremos as leis do conflito armado", em sinal evidente de que havia limites para as ordens presidenciais.

Por outro lado, recorde-se que o General Hyten, nas suas anteriores funções de Comandante do Sistema Estratégico de Defesa Nuclear dos EUA, tinha afirmado que antes de obedecer a uma ordem presidencial de uso de armas nucleares verificaria primeiro a sua legalidade."

(Don Trump havia alguns dias ameaçado a Coreia do Norte com a destuição total...).

"Acentue-se igualmente (ou principalmente) que  o General Milley referiu (...) que as Forças Armadas não intervirão de modo nenhum em processos de apuramento de resultados eleitorais, que são de exclusiva competência do Supremo Tribunal e do Congresso.

Isto num momento em que se admitem hipóteses de se chegar ao dia 20 de Janeiro (em que constitucionalmente deve tomar posse o Presidente eleito) com D.Trump a declarar que não entrega provisoriamente as suas funções a Nancy Pelosi - Presidente da Câmara dos Representantes (parlamento) - por entender que a contagem dos votos por correspondência ainda não está terminada (ou que não é fiável)."

As Forças Armadas num Estado de Direito democrático não deixam de ter uma responsabilidade constitucional que evidentemente tem que estar apoiada numa sólida interpretação dos desígnios de um país.

E se lhes é lícito intervir quando os seus próprios chefes não sabem interpretar o pensamento profundo quer do pessoal que comanda, quer do seu país, e extrair a confluência possível e desejável, como ocorreu no Portugal de 1974, já a decisão se torna mais fácil para os comandantes - e, entre eles, para o que tem as maiores responsabilidades - quando é clara a correcta interpretação constitucional, e quando é franco e aberto o exercício do seu Comando, com o consequentemente conseguido espírito de corpo.

Que deve ter sempre presente, no mundo aberto em que vivemos, nomeadamente desde o princípio deste século em que se confrontam pulsões totalitárias bem como informações distorcidas, os interesses conjuntos do Estado em que se inserem e os dos restantes - aferidos por perspectivas que tenham presentes um futuro equilibrado para a Humanidade.

General Milley, desejo-lhe que - com os seus pares - tenha boas reflexões, pensadas intenções, e correctas decisões."

Soube tomar a decisão - correcta - de telefonar ao seu par chinês, dadas as instáveis circunstâncias que estão se viviam.

Por certo não o fez sem consultar os seus pares, em vez de impor o seu pensamento - como outros, inebriados pelo Poder, o tentam invocando entretanto a necessidade de colaboração.

Exemplos a ter presentes.

19. Setembro.2021