"Ponto de vista": 60º aniversário da invasão sobre os enclaves de Portugal na União Indiana.


   60º aniversário da invasão indiana sobre os enclaves de Portugal.


Dentro de poucos dias (18 de Dezembro) ocorre o 60º aniversário da invasão por Forças militares da União Indiana sobre os enclaves de Portugal naquele jovem Estado.

Apesar de eu ter sugerido já há algum tempo a um dos principais semanários portugueses que recordassem este acontecimento, parece-me que tal sugestão não terá tido grande  receptividade, apesar de ter sido um dos primeiros  indicadores de que as restantes possessões portuguesas poderiam vir a ser alvo de agitação política - sinais que já tinham aflorado em 1954 (quiçá, e aliás, muito antes).

Como já referi há 4 ou 5 anos nestas páginas,  em 1954 ocorreu um acontecimento que marcou decisivamente a História de Portugal, e ao qual não tem sido dada a merecida relevância pela opinião pública, e que foi a ocupação pela União Indiana dos enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli, então também sob o domínio português - cujo Governo, bem conhecedor da posição política indiana contra a continuação de tal presença - tinha  desvalorizado as respectivas ameaças implícitas e, em vez de iniciar logo um processo de transição nas então "províncias" coloniais, tinha preferido assumir uma postura que visava a manutenção das suas políticas de então.

Já sob o que julgava ser a protecção da OTAN, de que Portugal tinha sido um dos fundadores esperando que lhe fosse assim dada protecção para a manutenção do império ultramarino - e não tendo dado importância adequada à significativa independência da então União Indiana logo na sequência da Guerra de 1939/45, nem ao profundo significado da poucos meses antes derrota francesa em Dien Bien Phu, o Governo português deu assim, em 1954, um primeiro passo num caminho inglório em que o segundo foi a rendição em 1961 às forças militares indianas, apesar dos episódios valorosos nas nossas Forças Armadas - em particular as de Marinha.

Primeiro passo que não terá sido estranho ao no ano seguinte pressuroso pedido de admissão à ONU, que de pouco serviu para tentar justificar perante os restantes Estados uma perspectiva de presença de natureza colonial não subscrita pela sua quase totalidade - inclusivamente por aqueles que tinham tido na sua génese tal perspectiva, e que posteriormente pouco ou nada fizeram para se colocar com firmeza ao lado do Governo português, mesmo após a ilusória sensação de segurança decorrente de uma sentença (1960) do Tribunal Internacional de Justiça (Haia) algo favorável a Portugal.

Governo que viria a sentir os primeiros sinais significativos de oposição mais consistente, revelada na campanha presidencial de Humberto Delgado e consequente mudança "constitucional" no modo de eleição do Presidente da República, bem como na agitação simbolizada pela tentativa de golpe de estado encabeçada por Botelho Moniz, para a qual terão contribuído os episódios do assalto ao paquete "Santa Maria" e os sangrentos massacres de colonos no Norte de Angola que levaram ao princípio da contra-guerrilha naquele território.

Dados lançados, seguir-se-iam os inícios da guerrilha independentista em Moçambique e na Guiné, e as respectivas reacções das Forças Armadas portuguesas.

Cujos oficiais não tinham esquecido a falta de sentido de Estado que tinha caracterizado os episódios ocorridos na Índia, tanto na falta de previsão, como nas orientações transmitidas.

Os resultados são conhecidos.

12.Dezembro.2021