.....20.Março.2022.
Uma Comunidade Europeia de Defesa.
Há que - embora sucintamente - regressar (a Rússia assim o obriga) ao tema já aqui abordado há dias sobre a necessidade da criação de uma Comunidade Europeia de Defesa, tal como já foi tentado em 1952 - porém sem sucesso devido à oposição da França a tal ideia, então sugerida pelos Estados Unidos da América.
Repetindo a argumentação que apresentei, a invasão da Ucrânia pela Rússia pode constituir o catalisador que impulsione a criação de tal Comunidade que, dentro da União Europeia, seria um factor de reforço das suas instituições políticas e do seu papel de afirmação à escala mundial.
Recorde-se de novo que de acordo com diversos pontos de vista em teoria de auto- organizações, estas necessitam de catalisadores para provocarem a melhoria da sua eficácia, mas quando tal não ocorre aumenta a probabilidade da sua desagregação.
Poderá existir argumentação contra tal hipótese que invoque a existência da NATO/OTAN, dado o seu papel defensivo, mas não devemos esquecer que se bem que a grande maioria dos Estados-membros da União Europeia pertença à NATO, há algumas excepções (e não será por acaso que a Suécia e a Finlândia terão agora solicitado a sua adesão).
Por outro lado, pode haver mudanças na atitude dos EUA face à sua interpretação de solidariedade para com a NATO, notando-se tendências isolacionistas que já se sentiram aquando do mandato de Don Trump, e de certo modo repercutidas recentemente aquando da retirada do Afeganistão.
A criação da Comunidade Europeia de Defesa abriria espaço para a importante e vital integração do Reino Unido na defesa da Europa ocidental, dado ser possuidor de significativo poder militar, dentro de um projecto consistente que não reduziria, antes reforçaria, a capacidade e o poder defensivo da NATO, e que permitiria o exercício de uma capacidade de intervenção autónoma centrada numa interpretação flexível das possibilidades de reacção a situações não cobertas pelo Tratado do Atlântico Norte.
E induziria um factor de aumento da consistência e da coesão da própria União Europeia, que a tal Comunidade poderia recorrer sem as peias que lhe são impostas pelo pesado processo decisional imposto por uma algo frágil Política Comum de Segurança e Defesa - da qual está ausente o importante Reino Unido.
Que, entretanto, vai tomando iniciativas de âmbito militar que, arrastando outros Estados europeus, podem constituir focos geradores de tensões de alto risco - porque potencialmente descoordenadas num quadro de defesa europeia conjunta.
Poderá ser o caso da JEF - Joint Expeditionary Force, a propósito da qual se recomenda a leitura, a partir daqui, de um relevante e muito recente comunicado do Governo britânico.
E. Macron bem poderia agora tentar colmatar a falta de visão da França, em 1952, e convidar O. Scholz a associar-se à iniciativa, de modo a assim não embaraçar B.Johnson.
E respeitadas organizações europeias, como a Eurodefense, poderiam aqui desempenhar um importante papel aglutinador e suscitador da ideia ao mais alto nível.
É que, como diz um milenar provérbio, agora algo adaptado, quando se pressente que não se pode derrotar o adversário, há que se juntar a ele.
No quadro deste texto, o adversário chama-se Boris.
Sem o Reino Unido, não há Defesa Europeia.
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