......25.Abril.2022
Algés, terra de conspirações..
--------------
(Texto de Helena Abreu)
No início dos anos 70, com a construção de Miraflores mas sobretudo dos prédios da Avenida dos Bombeiros Voluntários e da Rua Parque Anjos, Algés tornou-se um local escolhido por casais jovens para compra de casa. Foi nessa época que muitos militares, nas idas e vindas de missões nas ex-colónias , acabaram por se instalar aqui. Por essa razão, algumas das mais importantes reuniões preparatórias do 25 de Abril tiveram lugar em Algés.
Este texto baseia-se nos relatos dos Comandantes de Marinha Manuel Martins Guerreiro , Luís Costa Correia, Pedro Lauret e Franco Charais que nos contam o momento em que os oficiais do Exército envolvidos na conspiração têm os primeiros contactos com os seus colegas oficiais de Marinha.
Foi o alferes miliciano José Leal Loureiro quem fez as ligações entre os comandantes Almada Contreiras e Martins Guerreiro (Marinha) e o major Melo Antunes (Exército), que frequentava então o curso de Majores, em Pedrouços, nos Altos Estudos Militares.
A primeira reunião dos três deu-se em frente à pastelaria Nortenha, na Rua Damião de Góis, dentro do Renault 4 de Almada Contreiras. Foi aí que os três homens se conheceram numa primeira fase de avaliação dos objectivos comuns do projecto em que estavam envolvidos. Martins Guerreiro conta que dois ou três dias depois se encontrou com Melo Antunes na Nortenha e que, por haver muita gente e não se sentirem seguros, resolveram ir para sua casa, na rua Parque Anjos. Aí deu-se um verdadeiro episódio de reconhecimento. Melo Antunes ao ver em cima da secretária o livro das actas do Congresso de Aveiro, sentiu-se mais confiante na formação política dos seus colegas.
Este encontro é narrado por Martins Guerreiro num podcast que se pode ouvir em historiasdevida.cm-oeiras.pt .
Seguiram-se várias reuniões e partindo de consensos encontrados durante esses encontros, Melo Antunes ia redigindo a proposta de base do programa. Num jantar no restaurante O Pote, na Avenida João XXI, concluíram o documento que seria apresentado aos colegas.
A 3 de Março, há uma reunião alargada em casa do capitão Fernando Seabra (Força Aérea) na Avenida dos Bombeiros Voluntários de Algés. Estiveram presentes, pela primeira vez oficiais superiores dos três ramos das Forças Armadas: do Exército, major Melo Antunes, tenente-coronel Costa Brás e major José Maria Azevedo; da Marinha, comandantes Costa Correia e Almada Contreiras e tenentes Vidal Pinho e Pedro Lauret; da Força Aérea, o anfitrião major Fernando Seabra e major Francisco Balacó.
Toda esta agitação de oficiais era obviamente seguida pela DGS (nova designação da PIDE). Para contornar essa vigilância, a morada onde se iam reunir foi mantida secreta e combinaram encontra-se no jardim de Algés , junto ao Caravela de onde sairiam dois a dois para o local combinado. O curioso foi que um dos oficiais, Costa Brás, que se tinha juntado aos outros no Caravela foi conduzido, para seu grande espanto, exactamente ao prédio onde morava, onde era vizinho de Fernando Seabra.
Havia um outro documento que tinha sido elaborado por Costa Brás que foi discutido nesta reunião sendo algumas das suas ideias incorporadas no documento Melo Antunes. Luís Costa Correia também contribuiu para a versão final. É assim aprovado o documento “O Movimento, as Forças Armadas e a Nação “ em que pela primeira vez se enuncia que a solução para a guerra era política e não militar e que a grave crise nacional só se poderia resolver com a instauração de um regime democrático.
É então marcada uma reunião para 5 de Março em Cascais. Nessa reunião apareceu um terceiro documento da autoria de Sousa e Castro e dos oficiais do CIAAC (Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea de Cascais) que foi discutido e fundido com o documento Melo Antunes. Nessa reunião já estiveram presentes cerca de 170 oficiais dos três ramos das FA. Tinha nascido o MFA.
Alges, 23 de Abril 2021
Helena Abreu
#militaresdeabrilnossosvizinhos
(Reproduzido do Facebook, em 25.04.2022)
-------------
Observação: há sempre algo que falta, neste tipo de depoimentos. No presente ocorre-me menção ao então Major Manuel Monge, com relevante actividade conspirativa que o levou à prisão militar da Trafaria na sequência do levantamento militar de 16 de Março de 1974 (Caldas da Rainha).
----------
Últimos "Pontos de vista":
Comunidade Europeia de Defesa (1952) : uma nova tentativa?
Um país que esquece os Deficientes das suas Forças Armadas-----------
Últimos "Pontos de vista":
Comunidade Europeia de Defesa (1952) : uma nova tentativa?
Um país que esquece os Deficientes das suas Forças Armadas...
Jornalismo: factos, fontes, e opiniões
"Pontos de vista" e outros documentos: a partir daqui.
Lista de "Semimórias": a partir daqui
...............