"Ponto de vista": Internet e divulgação histórica: 25 de Abril de 1974 - a DGS/PIDE.

Internet e divulgação histórica: 25 de Abril de 1974 - a DGS/PIDE.

A crescente capacidade da Internet na difusão do conhecimento confere-lhe um importante papel na divulgação da História, bem como na acumulação de elementos de informação que possam contribuir para o seu aperfeiçoamento.

Foi nestas perspectivas que a propósito do cerco e ocupação da sede da então Direcção-Geral de Segurança (DGS/PIDE) publiquei aqui um texto há cinco meses procurando apresentar testemunhos susceptíveis de ajudar historiadores e jornalistas a aperfeiçoar o conhecimento do então ocorrido, e que diverge nalguns casos do que é referido em diversas net-páginas, nelas se incluindo as da Associação 25 de Abril (que irá aliás, e conforme soube, proceder à respectiva reformulação), bem como em múltiplos livros até agora surgidos.

Como afirmei no citado texto têm sido apresentadas versões diferentes sobre as horas a que as forças participantes no cerco entraram na sede da DGS/PIDE, e assinaladas muitas discrepâncias nos relatos constantes nos jornais e noutros meios de informação.

Tais discrepâncias não impedem porém que se possa apresentar um conjunto de conclusões sobre as quais espero com curiosidade a opinião de Historiadores.

Em primeiro lugar, parece inegável que o movimento militar - no qual havia como é evidente pontos de vista diferentes - tinha no que respeita à DGS/PIDE uma posição que se orientava para a sua extinção como polícia política e para a sua transformação nas colónias em instrumento de informação militar enquanto perdurassem hostilidades.

Por outro lado, os recursos militares disponíveis para a concretização do golpe militar não eram suficientes para abranger a DGS/PIDE, considerada como tendo pouca capacidade operacional - embora a respectiva  Delegação do Porto tenha sido considerada como alvo a atingir no plano de operações para a Região Militar do Norte.

Porém assim que na manhã de 25 de Abril se soube da disponibilidade de um Destacamento de Fuzileiros Especiais foi-lhe atribuído o objectivo de ocupar a sede da DGS/PIDE, o que não foi concretizado devido à constatação de haver forças no local que facilmente poderiam neutralizar qualquer tentativa em tal sentido.

Após a concretização do golpe de Estado mediante a demissão do Presidente do Conselho de Ministros foi constituída nova Força militar da Marinha visando a ocupação da sede da DGS/PIDE, que porém não procedeu ao assalto de imediato devido às mortes de civis provocadas por disparos de armas de fogo por elementos daquela polícia política, que de imediato levaram ao cerco da sede por Forças do Regimento de Cavalaria 3 (Estremoz).

Durante a noite de 25 para 26, e na própria madrugada de 26, ocorreram diversos contactos entre responsáveis pelo golpe de Estado e os dirigentes da DGS/PIDE, visando que a rendição se desse sem problemas, o que viria a ocorrer já de manhã, embora sem coordenação - a nível central - das Forças do Exército e da Marinha presentes no cerco.

Finalmente: não é, tanto quanto sei, muito claro o modo como foi, na tarde do dia 26, atribuída à Marinha a função de permanecer na sede da DGS/PIDE como responsável pela ocupação.

Cabe agora aos Historiadores a vez de se debruçarem sobre este aspecto - mais importante do que à primeira vista poderá parecer - embora e tal como já referi no meu citado texto de há meses o importante é que a polícia política tenha sido neutralizada e impedida de renascer disfarçada.

19.Abril.2015.