"Ponto de vista": Internet, informação, e comunicação.

Internet, informação, e comunicação.

     A importante companhia Cisco, relevante a nível mundial em matéria de redes de comunicação electrónica, acaba de publicar um estudo sobre tendências no desenvolvimento da Internet.

     São números impressionantes, que apontam para que dentro de 4 ou 5 anos a circulação de videos ocupe 80% do tráfego, e que os dispositivos sem fios sejam duas vezes mais que os clássicos, aumentando até 11 vezes, em 2019, relativamente a 2014.

     Independentemente dos números relativos a aspectos comerciais e financeiros, bem como a comparações entre grandes áreas geográficas, o que mais me reteve a atenção, sob o ponto de vista sociológico, foi precisamente o que citei ao início: o crescimento do video, e o dos dispositivos móveis.

     Tudo leva a crer que caminhamos assim para uma sociedade em que os indivíduos se tornem progressivamente mais autónomos no processo de obtenção e transmissão de informação, e em que a componente audio-visual prevaleça sobre a escrita.

     Nesta, novos programas como o Netflix e o Periscope permitem a transmissão directa de video a partir de um dispositivo móvel, levando inevitavelmente à prevalência deste tipo de comunicações sobre as que se baseiam na transmissão de informação escrita, podendo talvez vir a reduzir igualmente e em breve prazo o fluxo das comunicações telefónicas clássicas.

     Cabe assim reflectir, uma vez mais, sobre os conceitos de informação e de comunicação - este último associado à perspectiva de diálogo directo, face a face, sem a intermediação de um dispositivo tecnológico - e o respectivo papel na evolução socio-política.

     Sendo certo que caminhamos para uma sociedade mais informada, não é evidente que venha a ser melhor informada, pois é de admitir que o predomínio da circulação audio-visual retire espaço à transmissão de informação de mais qualidade e em que a componente escrita - que permite uma melhor reflexão sobre o que se lê e o que se passa a texto - perca parte da sua importância relativamente à que se processa em termos audio-visuais.

     Não será assim difícil pressentir que o predomínio dos meios de informação audio-visual se poderá vir a reflectir cada vez mais sobre o modo de escolha dos representantes políticos, assumindo crescente importância o papel daqueles meios na transmissão da respectiva propaganda eleitoral, em que a prevalência do conceito de representação e de delegação de poderes tende a deixar para trás as formas de participação directa na vida política.

     A consciência da encenação que decorre do exercício do poder político obtido em tais circunstâncias obriga a que os cidadãos devam procurar obter formas de escolha dos seus representantes em que o diálogo face a face, e a observação directa do comportamento dos que elegem, sejam determinantes para a formulação das suas opiniões.

     Ou seja, dando prioridade à comunicação directa, inter-pessoal, nos processos eleitorais, em detrimento dos métodos que tenham subjacentes tentativas de manipulação do pensamento.

     31.Maio.2015.