"Ponto de vista": Dois momentos marcantes em 25 de Abril de 1974.

Dois momentos marcantes em 25 de Abril de 1974.

    Estando a decorrer quatro décadas desde os acontecimentos que assinalaram uma das mais significativas transformações ocorridas na História do nosso país, o tempo que já passou permite uma melhor reflexão sobre os momentos marcantes ocorridos em 25 de Abril de 1974, e uma melhor identificação dos que foram mais decisivos para as mudanças políticas sucedidas nos meses seguintes.

     Comecemos obviamente por aquela data: recordemos que pela madrugada teve início o movimento militar visando um golpe de Estado cujos objectivos genéricos incluiam a instituição de um regime democrático em Portugal, mediante uma transição em que o poder político seria da responsabilidade de uma Junta de oficiais generais cuja presidência estava prevista para ser exercida pelo General Costa Gomes.

     Porém, na tarde daquele dia ocorreu - curiosamente dentro do golpe militar e de Estado - um outro golpe de Estado, quando o Presidente do Conselho de Ministros solicitou ao General Spínola que fosse à sua presença para lhe transmitir o poder político, tendo este General aquiescido a tal e passado a exercer de facto a presidência da Junta militar.

    Ainda naquela mesma tarde, mas já no final, tem lugar um episódio que viria a contribuir decisivamente para desencadear um ambiente pré-revolucionário: do interior da sede da DGS/PIDE são efectuados múltiplos disparos de armas automáticas que matam quatro cidadãos de entre um grande número de pessoas que frente àquele edifício se manifestavam contra a polícia política.

    Estes dois acontecimentos imprimem rumos diferentes ao exercício do poder político, a que até agora - que eu saiba - não terá sido atribuída a importância que em meu entender nele tiveram.

    No caso do primeiro deles e embora parecesse inevitável que mais tarde ou mais cedo haveria um confronto de perspectivas entre os Generais Spínola e Costa Gomes, tal como viria a suceder em 28 de Setembro, seria de admitir - na hipótese de o General Costa Gomes  ter sido o presidente inicial da Junta de Salvação Nacional - a possibilidade de uma antecipação da tentativa de golpe de Estado ocorrida em 11 de Março do ano seguinte, em vez da renúncia apresentada em Setembro.

    No caso do segundo acontecimento (as mortes dos quatro cidadãos) parece lícito aventar-se - como o fiz em texto anterior - que caso tal acontecimento não houvesse ocorrido a indignação popular contra a DGS/PIDE, embora existente, não teria chegado ao ponto a que chegou, dando origem ao avolumar do já enorme repúdio popular pela existência daquela polícia política e contribuindo decisivamente para o clima pré-revolucionário que ocorreu nos dias que culminaram com as manifestações do primeiro de Maio.

     Paradoxos curiosos: M.Caetano "escolhe" o seu sucessor, e a DGS/PIDE "agudiza" uma revolução...

3.Maio.2015.