"Ponto de vista" - Ceuta, ou o adormecimento nacional.

Ceuta, ou o adormecimento nacional.

Que me desculpem os prezados leitores, mas entendo que não devo deixar de voltar a referir a espantosa inacção do nosso país no que respeita a uma condigna comemoração do VI Centenário da Expedição a Ceuta.

Completaram-se em 18 de Julho 600 anos sobre a data em que uma poderosa Armada largou do Tejo sob o comando do próprio Rei de Portugal, acompanhado por seus filhos, para um mês depois o Exército nela transportado tomar de assalto a praça de Ceuta, no que tem sido geralmente considerado o símbolo da expansão atlântico-índica portuguesa - e europeia - sendo também o primeiro e grande passo no caminho da globalização empreendido pelo Homem.

Recordemos que um decreto de 1912 do Governo da jovem República Portuguesa estabelecia um programa de Celebração nacional do V Centenário da tomada de Ceuta (e do IV Centenário da morte de Afonso de Albuquerque) nomeando para o executar uma Comissão oficial presidida pelo prestigiado intelectual Ansemo Braamcamp Freire.

Tal como mencionei oportunamente nestas páginas, o Estado Novo não desperdiçou oportunidades comemorativas não só em 1940 (Nacionalidade e Restauração) como em 1960 (Henriquinas), neste caso já então incapaz de antever o que se pressentia no horizonte do tempo, mas não hesitando em relembrar datas históricas e mesmo assim conseguindo algum impacto internacional.

Com uma antecedência semelhante à que ocorreu entre 1912 e 1915 teria havido tempo para se reflectir que tipo de comemoração seria o mais apropriado, por exemplo lembrando à Europa  - e pelo menos às Américas - o papel de Portugal enquanto impulsionador dos contactos sistemáticos entre os continentes, num modelo comemorativo ajustado às novas realidades no quadro mundial.

Estou certo de que as Academias que não esqueceram o centenário da conquista de Ceuta e que a tal efeméride têm dedicado diversas iniciativas já desde o ano passado não terão deixado de oportunamente propor ao Governo e à Assembleia da República o adequado estudo do modelo de comemorações, sugerindo por certo diversas hipóteses, e que de tais propostas terão dado conhecimento ao Presidente da República, aos Partidos políticos sem representação parlamentar, e aos principais meios de informação pública.

Mesmo que porventura não o tenham feito, é lamentável - e triste - que os altos responsáveis políticos, com os seus múltiplos gabinetes de estudo e de apoio, aparentemente nada tenham concretizado quanto a um assunto de tanta relevância, pois Portugal não se deve esquecer da sua História, mesmo que por vezes pautada por aspectos menos felizes.

Sejamos claros: tais altos responsáveis deveriam ter a coragem suficiente para explicar à Nação as razões que os levaram a esta inacção - e, já agora, que o façam no dia 21 de Agosto, dia do VI centenário da tomada de Ceuta.

16.Agosto.2015.
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