"Ponto de vista": Informação e comunicação em democracia.


Informação e comunicação em democracia.

Volto a estes temas, citando alguns trechos de intervenções que fiz anteriormente, por considerar que os sistemas democráticos devem aperfeiçoar-se face às novas tecnologias de informação que têm surgido desde os finais do século XIX, nomeadamente as que têm características de larga difusão, e que vieram complementar a imprensa em suporte papel ocupando o principal lugar durante cerca de quatro séculos.

O telefone assumiu-se como o primeiro sistema de comunicação directa entre os cidadãos que a ele tinham acesso, e num segundo plano, mais restrito, o telégrafo e as comunicações radiofónicas, sucedendo-se a radiodifusão sonora que até ao advento da televisão se assumiu como o principal meio de difusão unidireccional, embora permitindo liberdade de escolha de canais de audição nos Estados não-autoritários.

A Internet veio transformar radicalmente a transmissão de informação, dando origem a uma era em que se tornou possível uma grande massificação da circulação de informação "horizontal", isto é, em que os cidadãos podem comunicar directamente entre si com poucas condicionantes restritivas - salvo em regimes políticos autoritários em que o poder político intervem na selecção da informação cuja circulação é permitida.

A Televisão e a Internet vieram modificar, nos países mais desenvolvidos, os modos de relacionamento social, assistindo-se assim ao atenuar da comunicação presencial, nomeadamente a de vizinhança, desempenhando a TV um papel de grande relevo na difusão de informação e de modelos de comportamento cultural e social, televisão que apesar do crescente papel dos telefones móveis e da Internet ainda assume uma preponderância nítida na transmissão de informação e de padrões de vida -  certo que com a possibilidade de escolhas  nos Estados com regimes não totalitários.

No entanto a Internet tem vindo a aumentar a sua capacidade de elemento transmissor de informação e de modelos culturais, assistindo-se a uma forte disputa com a Televisão em que esta poderá vir a perder muita da influência que até agora deteve, assistindo-se entretanto a diversas tentativas de uma e da outra no sentido de "absorverem" a rival - os sistemas internéticos procurando assegurar a capacidade de retransmissão de canais televisivos, e os operadores de televisão procurando possibilitar o acesso à Internet através dos televisores.

Contudo, o aumento exponencial da Internet através dos telemóveis - tanto de formato reduzido, como de média dimensão - faz antever a possibilidade da diminuição da influência da TV clássica, reduzida a uma presença em sala, em que informação e entretenimento ainda se manterão, mas constantemente aferidas por múltiplas escolhas dos seus "competidores" mais pequenos.

O dado comum a estas questões é, porém, o crescente afastamento inter-pessoal, quer ao nível da redução do saudável passeio pelo bairro após o jantar, quer nas visitas a vizinhos, quer na frequência de colectividade local, ou de grupo de interesses comuns - ou ainda e por último, mas afinal o mais importante, na menor comunicação directa em casa, em particular entre gerações.

Mais informadas, é certo, as pessoas. Mas mais longe umas das outras.

Os reflexos desta situação não se vêem de imediato, mas traduzem-se na diminuição da qualidade da vida política, pois há mais informação mas há menor participação directa, melhor conhecimento dos assuntos mas menor no que respeita aos representantes eleitos - em que nada pode substituir o contacto directo.

E é por isto que em muitos países as formações políticas tradicionais se esboroam e surgem alternativas, ou as frustrações dão origem a manifestações violentas de quem não pressente soluções para problemas essenciais.

Já me tenho referido a estas questões, sugerindo caminhos - e um deles passa pelo reforço do Poder Local - pelo que voltarei em breve a este assunto.

27.Dezembro.2015.