"Ponto de vista": Investimento financeiro e "enterprise angels".


Investimento financeiro e "enterprise angels".

As Micro, Pequenas,e Médias Empresas (PME) portuguesas têm estado em foco em recentes notícias sobre apoios financeiros, tanto pela activação dos principais programas de apoio no quadro do financiamento comunitário de 24 mil milhões de Euros no período de 2014 a 2020, gerido pela Comissão Europeia, como por diversos créditos concedidos pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) a Bancos, nomeadamente ao Santander-Totta e ao BCP Millennium (500 milhões de Euros a cada um - e no caso do BCP, na sequência de análogo empréstimo em fins de 2014) visando apoiar PME.

Por outro lado, o Banco Central Europeu (BCE) tem continuado a política de tentativa de indução do crescimento através de generosos incentivos à Banca da zona Euro, tendentes à procurada inversão do ciclo deflacionário e ao nível de inflação na ordem dos 2% anuais, política cujos resultados têm estado longe de ser satisfatórios, na medida em que a Banca tem privilegiado a busca do seu equilíbrio financeiro, não arriscando muito na concessão de créditos a empresas, e assim favorecendo um ciclo de inanição  que não augura nada de positivo para a própria sobrevivência da moeda única.

No que respeita aos financiamentos concedidos através da Comissão Europeia, as PME deparam com processos burocráticos longos e confusos, apesar das proclamações oficiais negando tal circunstância, e de que um exemplo em Portugal é precisamente ter sido criada há bastante mais de um ano uma "Instituição Financeira de Desenvolvimento" destinada a colaborar na administração daqueles apoios financeiros, mas que até agora pouco mais terá conseguido, segundo diversas notícias entretanto vindas a público, do que nomear os 7 elementos da respectiva Administração - obviamente percebendo as "adequadas" remunerações.

O BEI apresenta-se assim como sendo a melhor solução para o crédito a PME, pois estatutariamente não só deve privilegiar este sector do meio empresarial, responsável por mais de 90% do emprego, como também por ter que conceder os financiamentos através da Banca nacional - que tem assim o seu risco bastante atenuado embora deva obviamente avaliar a qualidade dos projectos que lhe sejam apresentados.

Assim o BEI não tem ido muito longe no que respeita ao nível de financiamentos concedidos, pois por exemplo em Portugal nos anos de 2014 e 2015 o total foi da ordem dos 2,5 mil milhões de Euros (e de 2011 a 2015 foram cerca de 4 mil milhões).

E contudo o BEI poderia elevar substancialmente os níveis de crédito conseguidos, pois se bem que os seus "accionistas" sejam os Estados-membros da União Europeia estes não têm que suportar directamente quaisquer encargos, pois o BEI financia-se directamente no mercado de capitais.

E qual a razão pela qual não o faz?

Foi-me dito por anteriores altos responsáveis - como já o referi anteriormente nestas net-páginas - que por falta de projectos consistentes, argumento também ouvido do lado da Banca tradicional.

Mas do lado das PME argumenta-se não se dispor frequentemente da capacidade técnica para a elaboração de projectos sustentados que possam apoiar a concretização das muitas ideias existentes.

Contudo, uma resposta apropriada poderia consistir na criação de empresas - apoiadas pelo BEI - especializadas na elaboração de projectos, e cujos lucros proviessem do êxito das empresas a quem prestassem tais serviços.

Seriam como que uma espécie de "Enterprise angels"...

Assim, a razão pela qual o BEI não aumenta os seus níveis de financiamento às PME estará possivelmente na política do seu "Presidente do Conselho de Administração" - o Conselho Europeu, que tem deixado ao BCE a condução de uma política de investimento baseada por um lado em privilegiar a Banca da zona Euro (esquecendo a zona "Não Euro"), e por outro nas pesadas iniciativas da Comissão Europeia - aliás apenas dirigidas para os Estados-membros com maiores dificuldades de desenvolvimento.

Esquecendo que o investimento conduzido através do BEI não é inimigo da procura do equilíbrio das finanças públicas, antes melhorando a quantidade e qualidade do emprego e o crescimento do Produto (com a consequente diminuição da dívida pública), aquele Conselho conduz a União Europeia a um torpor que favorece a descrença colectiva na solidariedade entre os povos que representa.

Haja ao menos, e enquanto é tempo, um dirigente que pelo seu discurso e ideias induza nos europeus um sentimento que os leve a uma verdadeira união.

6.Dezembro.2015.