"Ponto de vista": Um "Draghião" de papel na União Europeia?


Um "Draghião" de papel na União Europeia?

A sabedoria oriental apelida de "tigre de papel" quem se arroga de ares ameaçadores e afinal não passa de um inofensivo ser.

E por certo aplicará a mesma expressão aos dragões, aliás constantes em manifestações populares na China.

O pensamento do cidadão da União Europeia não muito versado em aspectos da ciência económica e financeira, mas interessado pelas sucessivas notícias que têm dado a conhecer os esforços do Banco Central Europeu para ajudar a reanimar a economia voltando a colocar a inflação em cerca de 2%, não deixará certamente de caracterizar as tonitruantes declarações periódicas do respectivo governador Mario Draghi como sendo produzidas por um ameaçador monstro que não passaria ao fim e ao cabo do que se poderia classificar como um Dragão de papel - ou, porque não, um "Draghião" do mesmo material.

É evidente a grande injustiça que recairia sobre M.Draghi se fosse esquecida a sua acção de defesa da sobrevivência da moeda única, a qual tem vindo a ser coroada de êxito; mas já no que respeita ao combate à deflação, as medidas dadas a conhecer periodicamente e postas em prática estão longe de ter sucesso - esperando-se com curiosidade o que será anunciado no próximos dias.

Não se sabe se o BCE acredita mesmo que emprestando dinheiro à Banca a taxas quase perto do zero esta o vai injectar logo na economia, apesar de já ter tido tempo para verificar que os Bancos têm aproveitado a situação para em primeiro lugar procurarem resolver os múltiplos problemas que deixaram acumular, acrescidos das novas obrigações que uma união bancária decretada pelo poder político da UE tem que passar a respeitar.

Talvez venha a constatar que apesar de tudo é a política que comanda a economia, e que ajuda a restabelecer a confiança no futuro.

E que o sentimento de confiança é a base do crédito, de se acreditar que os ganhos no futuro compensarão largamente os empréstimos de agora, ou seja os investimentos.

E que enquanto tal confiança não existe o poder político - Europeu -  tem a obrigação de recorrer a mecanismos de arranque fundados no investimento, em cooperação público-privada (BEI-Banca).

Em que a Banca privada será convidada a colaborar, e em que o Banco Central se limitará ao seu tradicional papel de zelar pela manutenção de apropriadas taxas de inflação, deixando a política financeira para quem deve ter tal responsabilidade: os cidadãos, através do poder político democrático.

Que deve ter vistas largas, e não se deixar enredar por visões de meros contabilistas que se arrogam o papel de políticos.

28.Fevereiro.2016.