"Ponto de vista": União Europeia - sinais de desagregação.


União Europeia - sinais de desagregação.

Muitos indicadores fazem antever que nos próximos meses aumentem as tendências que já vinham a ser notadas apontando para alguma desagregação da associação de diversos Estados num quadro político que tem como objectivo a criação de uma União Europeia.

Duas dessas tendências são mais relevantes. Uma, a de uma possível saída do Reino Unido na sequência de um referendo cujo anúncio é já por si um elemento de características desagregadoras, pois mesmo que não obtenha aprovação as sementes de divisão interna naquele Estado-membro provavelmente continuarão a fazer-se sentir.

Outra, a da extrema e notória dificuldade que a União Europeia tem revelado em lidar com o afluxo de refugiados que fogem do conflito na Síria, bem como de outros de menor dimensão noutros locais, e relativamente aos quais não se vislumbram expectativas de paz num curto prazo,

Se porventura o instável (e porventura iníquo) acordo obtido com a Turquia entrar em execução - e tiver algum "êxito", o que poderá não ocorrer - a provável melhoria climatérica que a Primavera trará ao Mediterrâneo, conjugada com a instabilidade política na Líbia, voltará a embora numa menor escala a induzir pressão migratória sobre a Itália, reacendendo os problemas de acolhimento e encaminhamento. E isto, apesar de um aumento do empenhamento de forças navais na dissuasão de tentativas de travessia.

Dentro da União Europeia aumentam entretanto os sinais de rejeição de uma política de acolhimento e integração de refugiados, quer em atitudes governamentais como no norte e leste da União, quer
na opinião de um crescente número de cidadãos conforme verificado quer em eleições recentes quer através de manifestações de protesto e de opinião escrita.

Por outro lado, a dificuldade de se manter o "Espaço Schengen" após a entrada de centenas de milhares de cidadãos não registados adequadamente introduz mais um elemento desagregador de um conceito vital para a União: o da liberdade circulação de pessoas.

A tudo isto acrescem indicadores de fraco desempenho económico conjugados com a entrada em cena de perspectivas deflacionárias nas duas Uniões Europeias "existentes" : a "União Euro" e a "União Neuro" - a primeira quiçá mais neurótica que a segunda...

Acrescentemos por outro lado as porventura débeis atitudes com que a União Europeia tem encarado as intervenções russas na Ucrânia, em particular na Crimeia, após haver encorajado aquele país a dar passos no sentido de uma maior associação à União Europeia, e teremos então uma visão política global sobre este actor mundial que aparenta apenas ser um anão que compra a sua placidez distribuindo Euros ou aplicando vagas sanções de natureza económica.

Sinais evidentes de desagregação numa Europa incapaz de olhar para um futuro para lá de um semestre.

20.Março.2016.