"Ponto de vista"- "Brexit": um curioso divórcio.


  "Brexit": um curioso divórcio.

Já alguém imaginou a existência de um casal em que um dos cônjuges declara, em Junho de 2016, divorciar-se em 2019 ou 2020 (afirmando que oportunamente indicará a data que mais lhe convem para a concretização de tal acto), e que diz que só iniciará o processo judicial em 2017 - sem uma data firme ?

E em que o outro cônjuge aceita passivamente tal procedimento, apenas articulando algumas frases de circunstância, sem pensar como irá reorganizar a sua vida e dando a entender que poderá aceitar soluções de coabitação em que o seu presente parceiro obtem confortáveis vantagens apesar de reconhecidamente ter entrado em litígio sem razões ponderosas, eventualmente pensando que lhe seria implorado que não concretizasse as intenções de separação ?

Como é que esse casal se irá relacionar com os seus amigos de agora, e principalmente com os vizinhos com quem mantinha um trato de reserva, por vezes de forte discordância, e que agora tenderão talvez a aproveitar-se da situação para formularem exigências que antes não ousariam sequer deixar transparecer ?

O cônjuge rejeitado pronunciará algumas frases grandiloquentes e provavelmente esperará que o tempo se encarregue de fazer recuar o seu parceiro nas intenções de separação, cedendo então ambos em diversas questões ao constatarem que as desvantagens da separação poderão ser superiores aos benefícios da coabitação.

No entanto, uns e outros cedo constatarão que ambos poderão perder influência junto da vizinhança, pois os terrenos que cultivavam e os frutos que deles eram colhidos não recolhiam os mesmos resultados que advinham antes de um trabalho de cooperação e de articulação de tarefas; e que o poder financeiro obtido não lhes permitia negociar como dantes, acrescendo a diminuição de robustez.

A falta de firmeza que a União Europeia dos 27 já demonstrou nestas semanas face ao período prè-litigioso não augura nada de bom para uma sua afirmação na cena internacional e no seu desempenho interno, arriscando mais episódios de desagregação.

E depois do próximo Conselho Europeu "informal" dos 27 (que, sem obviamente a presença de Theresa May, não podia deixar de não ser "oficial"), que ocorrerá em Bratislava no próximo dia 16, como decorrerá o Conselho "a 28" previsto para 20/21 de Outubro ?

Um puro exercício de hipocrisia ?

4.Setembro.2016