"Ponto de vista": D.Trump e a sua corte -numa foto...


     D.Trump e a sua corte - numa foto...

A fotografia que se reproduz no presente texto, e que pode ser vista* também a partir daqui , diz muito - quase tudo - sobre o modo de trabalho e sobre a personalidade de Donald Trump (o "Trwitter", como tenho vindo a apelidá-lo nestas páginas...).

E por que razão se mostra aqui tal foto ?

Porque se trata de uma visão - mais uma - sobre a pessoa, e sobre o grupo de trabalho em que mais directamente se apoia, cujas decisões têm influência não só e obviamente sobre os cidadãos dos EUA mas também sobre todos os habitantes do nosso planeta (não esquecendo os seres vivos que o povoam e que dependem das respectivas condições de habitabilidade).

Que se observa então na foto, num primeiro relance ?

O procedimento, contrário a todas as boas práticas de direcção e metodologias de trabalho, de se telefonar durante uma reunião, o que só deveria suceder em casos urgentíssimos dado o alto nível em que se processava o encontro, uma vez que estavam sentados o Vice-Presidente e o então Conselheiro para a Segurança Nacional (que entretanto já apresentou a demissão do cargo...).

Sentados a uma mesa notoriamente não apropriada para reuniões de trabalho modernas, mas sim para encontros de natureza majestática em que o "chefe" dá rápidas instruções a subordinados, aguardam - talvez pacientemente - o final de um telefonema potencialmente propício a algum exibicionismo posterior.

Mesa em que estão dois computadores, indiciando dispersão funcional, e pilhas de jornais (que se vêem melhor noutras fotos, nomeadamente na que o "Expresso" de 11 de Fevereiro passado publicou, de um ângulo ligeiramente superior ao que foi usado nesta) - provavelmente demonstrativas de eventual obsessão com a imprensa, pois seria mais lógico receber extractos seleccionados incluindo fotos de excertos video, a partir dos quais poderia solicitar cópias integrais.

Durante o telefonema o adido de imprensa, S.Spicer (entretanto agora "reforçado" pela criação de um posto de Director de Comunicação, atribuído a M.Dubke, em evidente sinal de procura de bodes expiatórios para o desastre que é a imagem do Chefe - com a Gallup a indicar um apreço já só de 36% de cidadãos pelo seu desempenho) sussurra algo a M.Pence (o "polícia-bom" que sossega a NATO em contradição com o "mau" que para ela olhou com desdém), enquanto M.Flynn, com as suas pastas em cima das pernas, e uma vermelha - certamente super-classificada de hiper-secreto ou da famosa DBR ("Destroy Before Reading") - a custo obtendo um lugarito na mesa do Chefe, esperava talvez pelo momento em que teria que confessar a M.Pence a existência dos negados telefonemas e encontros com altos funcionários da Federação Russa e que o levaram a ter que apresentar o pedido de demissão, prontamente aceite - o que aliás foi bem significativo pelo que tal pressa denotou.

Atrás, R.Priebus, o Chefe de Gabinete - também de pé - aproveita para pôr a escrita em dia, colocando-se de modo a impedir que S.Bannon, quiçá rival na luta por subir um lugar no caminho para o coração do Chefe, passe a um plano de maior evidência enquanto repensa o documento de estratégia que entretanto terá elaborado, e para emendar o qual não teve direito a prancheta similar à de R.Priebus...

M.Pence, por seu turno, espera que D.Trump termine o telefonema (e porventura dite um "Trwitter" a S.Spicer) olhando o "Chefe" e porventura pensando quanto tempo decorrerá até que seja suscitada a impugnação (ou, como se diz em bom brasileiro - infelizmente já "adoptado" por muitos portugueses - o "impitchemã).

Talvez não demore muito, apesar do penoso comício de emergência que D.Trump realizou na Florida, procurando reviver uma campanha eleitoral demagógica através da repetição de promessas como a de em duas semanas apresentar uma sólida alternativa ao famoso "Obamacare" que demorou três anos a ser implantado.

E entretanto o Senador J.McCain mostra as garras, pois após a também inacreditável conferência de imprensa de D.Trump, ontem, criticou as declarações em que o Presidente afirmou que a Imprensa e as cadeias de informação eram "o inimigo do povo americano".

J.McCain avisou que a supressão de uma imprensa livre é o caminho por onde começam os ditadores, acrescentando que se queremos preservar a democracia tal como a conhecemos devemos ter uma imprensa livre mesmo que muitas vezes nossa adversária, pois doutro modo perderemos muitas das nossas liberdades individuais.

Tais declarações ajudarão provavelmente a compreender o perigoso populismo demagógico em que navegam traços paranóicos da personalidade de D.Trump, "the Trwitter", confirmada de certo modo pela análise da foto que deu origem ao presente texto.

Câmara dos Representantes, e provavelmente Senado - posteriormente - "c'est à vous"; "your turn"; é a vossa vez.

19.Fevereiro.2017

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