"Ponto de vista": Brexit - factor de coesão na UE ?


   Brexit - factor de coesão na UE ?

A comunicação de saída da União Europeia, formulada pelo Reino Unido, vai provocar uma transformação profunda na União, e abalar as políticas interna e externa do Reino Unido. Ninguém tem dúvidas sobre este assunto.

Trata-se do primeiro agente catalisador de grandes transformações na Europa, com reflexos na política internacional em todas as suas vertentes, e tal como já tem vindo a ser referido nestas páginas, tanto pode constituir um agregador como um destruidor da União Europeia - mesmo que tal destruição ocorresse em consequência de um definhar lento e progressivo.

Trata-se igualmente de um caso paradigmático de aplicação da Teoria dos Jogos, em que paradoxalmente não há um propósito de aniquilação total do adversário, na medida em que parece evidente que de tal processo resultaria sempre algum um enfraquecimento das capacidades da parte "vencedora", saindo ambos os lados a perder - embora um mais que o outro.

Convém porém não se esquecer que é do interesse da União demonstrar que a saída do Reino Unido levará este Estado a arcar com custos desproporcionados face às vantagens de que auferiria, fazendo assim notar às tendências centrifugadoras na UE que as perdas a suportar seriam muito superiores aos ganhos eventualmente obtidos.

Assistir-se-ia assim a um jogo subtil de ambas as partes, em que o Reino Unido já começou a argumentar invocando o seu peso em questões de segurança militar, invocações aliás sem previsível sucesso uma vez que a União Europeia não tem política nem recursos comuns em tal matéria.

Por outro lado, o referendo previsto para ocorrer na Escócia apenas terá lugar daqui a algum tempo, quando os primeiros argumentos de ambas as partes já foram expostos, mantendo-se a hipótese de uma cisão no Reino Unido constituir um enfraquecimento da sua posição negocial - situação que poderia ser eventualmente contrabalançada pelas perspectivas catalãs.

É neste quadro que a Alemanha - seja qual for o resultado das previstas eleições deste ano - recordará que é de seu interesse não só a continuação da União mas também que esta saia reforçada deste confronto, aproveitando a saída do Reino Unido, que desde o respectivo ingresso tinha sempre constituído um travão às tentativas alemãs de aumento da sua influência no seio da União.

Será aqui que a política alemã provavelmente mudará no que respeita ao Euro, pois convir-lhe-á por certo que os Estados-membros sintam que a política do Eurogrupo, por muitos considerada rígida e "fundamentalista", inflecte - nomeadamente no que respeita aos membros em maiores dificuldades no que diz respeito aos critérios até aqui adoptados.

Dir-se-à que a Alemanha ficará com uma influência excessiva na Europa.

Porém, é evidentemente preferível que tal suceda num colectivo de Estados-membros.

2.Abril.2017.