"Ponto de vista": Sobre a evolução dos critérios de moralidade na escravatura - e não só.


     Sobre a evolução dos critérios de moralidade na escravatura - e não só.

O ilustre Coronel David Martelo, reputado  historiador, recordou recentemente no seu blog "A bigorna" a existência de diversas bulas pontifícias, emitidas em meados do século XV, autorizando o rei de Portugal a "atacar conquistar e submeter sarracenos, pagãos e outros descrentes inimigos de Cristo; a
capturar os seus bens e territórios; a reduzi-los à escravatura perpétua e a transferir as suas terras e territórios para o rei de Portugal e para os seus sucessores."

Estas autorizações trouxeram à minha memória, por uma inesperada associação de ideias, o episódio em que o Presidente dos EUA, Andrew Jackson, ordenou em 1834 a transferência forçada de muitos milhares de "índios" que há muitos anos estavam instalados na margem esquerda do Mississipi, obrigando-os a deslocarem-se - na sua maioria a pé - para terras distantes várias centenas de quilómetros, tendo tal marcha vindo a ser conhecida como a famosa "Trail of tears", em que morreram muitas centenas dos deslocados.

Episódios análogos continuam a ocorrer sob outras formas e com outras gentes, embora pelo menos já sem bênçãos papais.

A evolução dos valores de natureza moral tem passado por momentos em que os conflitos armados e a existência de situações de opressão como as aqui enunciadas provocam retardos significativos na prossecução dos objectivos constantes da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Longos e lentos caminhos, os que a Humanidade ainda tem que percorrer.

12.Julho.2020.