Trump & Hegseth aos "seus" generais...

 ..... 2.Outubro.2025

Um importantíssimo texto de Jorge Bettencourt, que o Autor me autoriza a publicar:

O DEPARTAMENTO DA GUERRA DE TRUMP E OS ECOS SOMBRIOS DA HISTÓRIA

Nos EUA, Donald J. Trump, no papel de Comandante-Chefe, mudou a designação do antigo Departamento da Defesa para Departamento da Guerra, alegadamente para aumentar o foco nos interesses nacionais e dar um sinal claro ao país. O seu Secretário da Guerra, Pete Hegseth, definiu como única missão para as novas forças armadas americanas: Lutar na guerra, preparar-se para a guerra e preparar-se para vencer.

Esta doutrina em que a letalidade é o cartão de visita e a vitória o único estado final aceitável, pressupõe um exército implacável, leal e ideologicamente puro. Olhando para a História, em particular para o papel desempenhado pelas forças militares alemãs sob o regime nazi, é inevitável traçar um paralelo entre a retórica de força incondicional de Trump e o destino trágico de um exército que abraçou a supremacia ideológica.

Trump e Hegseth estão determinados em garantir que a nova força de combate americana seja purificada de qualquer "lixo ideológico tóxico". Isto implica que as promoções serão baseadas no seu conceito de mérito. Trump critica abertamente os "generais e almirantes gordos" e exige que as posições de combate regressem ao padrão mais alto "masculino apenas", afirmando que, se isso significar que nenhuma mulher se qualifica para algumas missões de combate, que assim seja. Os chefes militares são libertados para serem apolíticos, mas apenas se executarem as ordens de Trump.

Esta obsessão com a pureza e a lealdade ideológica encontra um eco inquietante no regime nazi. Assim como os militares americanos são agora avaliados pela sua capacidade de executar as ordens de Trump, os militares alemães juraram obediência incondicional ao Führer. Os chefes militares alemães foram coniventes com o racismo e as leis raciais do regime nazi e impediram que judeus prestassem serviço nas forças armadas alemãs, destituindo e demitindo os que estavam em serviço.

Um dos aspectos mais preocupantes da visão de Trump é a esfera de ação doméstica das forças armadas americanas. Trump insiste que os EUA estão sob uma "invasão de dentro" por um "inimigo de dentro que não usa uniforme". Para enfrentar esta ameaça, Trump sugeriu diretamente aos oficiais generais americanos que “devemos usar algumas destas cidades perigosas como campos de treino para os nossos militares.” Citou o sucesso da intervenção em Washington D.C., que se tornou uma das cidades mais seguras num período de um mês, e criticou líderes incompetentes em Chicago e Portland.

Isto representa uma politização explícita das forças armadas para manter a ordem interna e reprimir a oposição política, algo que está historicamente ligado à consolidação do poder nos regimes ditatoriais. Em 1933, os chefes militares alemães, que partilhavam o nacionalismo e o anticomunismo com os nazis, aceitaram as orientações de Hitler. A sua neutralidade garantiu que os nazis pudessem usar de intimidação e força para reprimir a oposição política e consolidar o seu poder. E a cooperação proativa dos militares, mesmo que não fossem nazis convictos, foi fundamental para a consolidação do regime nazi.

Hoje, nos EUA, Trump vê o Departamento da Guerra e as forças armadas americanas como a ferramenta final para "endireitar a política interna". O Secretário da Guerra Hegseth promete que os inimigos serão esmagados pela violência, precisão e ferocidade do Departamento da Guerra. A sua ordem para os combatentes é clara: "Vocês matam pessoas e partem coisas para viver." O objetivo é a letalidade máxima e autoridade para os combatentes.

Quando umas forças armadas são imbuídas da missão de serem implacáveis e incondicionalmente letais, os resultados podem ser devastadores, como aconteceu durante o período nazi. Durante a Segunda Guerra Mundial, as unidades das forças armadas alemãs não se limitaram ao combate convencional. Forneceram apoio logístico e, muitas vezes, participaram no assassinato de judeus, de ciganos e de outras vítimas do regime nazi. As forças militares alemãs foram responsáveis pela morte de três milhões de prisioneiros-de-guerra soviéticos sob sua custódia, como resultado de uma política intencional de maus-tratos e execuções sumárias. O exército alemão tornou-se politicamente extremista durante a guerra. O mito de que os militares alemães não estiveram envolvidos nos assassinatos em massa e genocídio é falso, pois participaram em toda a violência do regime nazi.

A retórica de Trump de que "a nossa unidade é a nossa força – e não a diversidade" e a insistência em reverter a cultura militar para uma mentalidade de guerreiro que "não tem medo de atirar beliches ou usar as mãos em recrutas", enquanto se prepara para intervir em Chicago, sinaliza uma perigosa fusão entre a política e a violência militar.

Embora as forças armadas americanas ainda actuem sob uma estrutura constitucional, a insistência de Trump em "acabar com essa porcaria" e dar poder total aos chefes militares para impor padrões de comportamento violentos, lembra como um exército patriótico se pode transformar numa ferramenta de coerção ideológica e letalidade extrema, independentemente das normas civis ou das atrocidades que comete, desde que a vitória seja o único estado final aceitável.

A História adverte que quando a missão de umas forças armadas passa a ser a obediência incondicional e a violência, a linha de separação entre a defesa da Nação e a execução de crimes ideológicos hediondos, pode desaparecer rapidamente.

Jorge Bettencourt

( In "Facebook")

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Há 50 anos, Eleições...

...... 30.Set.2025 

Há 50 anos, Eleições...

50 anos passaram sobre o Setembro em que o Comandante João Pires Neves - Oficial da Armada pertencente ao Gabinete do recém nomeado Primeiro-ministro, Almirante Pinheiro de Azevedo - me informou que o Almirante queria falar comigo.

Compareci de imediato, tendo então sido convidado para assumir um cargo ministerial - na Administração Interna, ou na Comunicação Social.

 Algo surpreendido, agradeci a honra, porém declinando referindo que "para Ministro qualquer pessoa serve, mas  para colaborar na organização das eleições que se aproximavam (1976) creio que teria alguma capacidade para tal devido a ter acompanhado de perto as Eleições para a Assembleia Constituinte".

"Por esta resposta não esperava! "respondeu-me o Almirante.

"E agora quem é que vou convidar ?"

"Senhor Almirante, sugiro o Comandante Almeida e Costa, que superintende naquele Ministério ao  Secretariado para os Assuntos Políticos - mas com a recomendação de ser aceitada a minha colaboração na organização dos próximos actos eleitorais."

E assim foi.

Há 50 anos.