Democracia representativa e democracia participativa.
A maioria dos portugueses com mais de 55 anos de idade recorda-se por certo do entusiasmo com que a quase totalidade dos portugueses não emigrados participou no recenseamento eleitoral do início de 1975, bem como na enorme afluência às eleições que ocorreram em 25 de Abril do mesmo ano - para a Assembleia Constituinte - e nas de 1976, para Deputados, Presidente da República, Poderes Regionais, e Poder Local.
Tal adesão popular correspondeu ao desejo colectivo de uma verdadeira participação na vida política dos portugueses, traduzida através de um sistema em que o poder do povo passaria a ser delegado em representantes mandatados para o exercer durante um determinado período mediante obviamente regras impeditivas do seu abuso.
Porém, à medida que se foi desvanecendo o entusiasmo inicial e a população começou a sentir que tinha passado a haver um notório distanciamento dos eleitos - nomeadamente dos Deputados - face aos eleitores, dado o poder prevalecente das organizações partidárias nas escolhas dos respectivos candidatos, foi diminuindo a participação na vida política caminhando-se assim para a adopção de um modelo mais característico de sociedades desenvolvidas economicamente e em que é a possibilidade de alternância no quadro político decorrente de actos eleitorais que regula o sistema democrático.
A crise financeira e económica que entretanto se abateu sobre o nosso país veio introduzir um sentimento de desencanto e de alguma impotência decorrentes do elevado desemprego e consequente emigração bem como da deterioração das condições de vida da generalidade da população, em especial dos que têm ou passaram a ter menores recursos.
A sensação de incapacidade para contribuir para melhorar a situação que se vive é agravada pelo bloqueio do sistema político, em que os partidos escolhem os seus candidatos a representantes sem qualquer possibilidade de intervenção dos eleitores, precisamente num momento em que deveria haver uma maior comunicação entre candidatos e votantes, mas as propostas que têm surgido para melhorar o funcionamento da democracia não são, na sua esmagadora maioria, apropriadas para responder adequadamente a tal propósito.
Só vejo uma solução, que tenho exposto nestas páginas, e que voltarei a expor nas próximas.
Passa, obviamente, pelo Poder Local.
4.Maio.2014.