"Ponto de vista": União Europeia, crises e catalisadores.

União Europeia, crises e catalisadores.

    Os resultados da eleições para o Parlamento Europeu, pautados por um inevitável aumento da abstenção, dos votos em branco e nulos, e da votação em partidos que rejeitam grande parte das políticas da União, aliados à crise financeira e económica instalada em muitos dos Estados-membros, demonstram uma gritante falta de apoio às políticas e Tratados existentes, o que é agravado pelo crescente distanciamento entre os eleitores e os seus representantes.

    Estamos assim num momento preocupante, prenunciando uma crise que poderá passar do seu actual estado larvar para uma diferente fase provavelmente caracterizada pelo agudizar de situações de elevada tensão cujos resultados poderão ser imprevisíveis caso não se adoptem disposições que possam contribuir para que os prováveis momentos de confrontação política sejam ultrapassados com a menor fricção possível.

    A transformação da presente apatia em algo que induza um estado de transformação e de mutação susceptíveis de provocarem um reordenamento político poderá decorrer de uma súbita crise que, se bem gerida pelos dirigentes políticos da União Europeia, poderá levar ao estabelecimento de condições susceptíveis de contribuírem para uma melhoria do sistema político e institucional realizável sem grandes sobressaltos.

    Diversas ocorrências poderão eventualmente ser catalisadoras de uma tal situação, concretizando-se assim e uma vez mais uma previsão de Jean Monnet enunciando que a construção de uma união entre os Estados europeus se faria através da superação das crises com que se depararia.

    Entre tais ocorrências poderão avultar o adormecimento económico provocado por situações de deflação, com as óbvias consequências no desemprego e aumento de convulsões sociais, bem como o agudizar da crise russo-ucraniana, cujos resultados embora imprevisíveis não deixarão de constituir um sério desafio à União.

    Algo é porém quase certo: após o vazio político provocado pelas eleições de hoje algo tem que acontecer, tanto no que respeita à reflexão sobre o espírito europeu bem como sobre o repensar da democracia de base - sem a qual não produzirão efeitos quaisquer artifícios de uma reconstrução europeia a partir de manipulações de Tratados elaboradas a partir das superestruturas institucionais.

25.Maio.2014.