Foram recentemente terminados os contratos de trabalho de mais de 60 jornalistas até agora vinculados a um dos mais importantes grupos económicos na área dos meios de informação pública, que tendo começado pelas transmissões de futebol pela TV está agora presente também nos sectores da imprensa, rádio, televisão e internet, bem como na publicidade e nas telecomunicações, entre outras, e a que pertencem por exemplo o Diário de Notícias, a TSF, o Açoriano Oriental (o mais antigo jornal português), e os também prestigiados Jornal de Notícias e Jornal do Fundão.
Sabe-se como é cada vez mais difícil nesta época para a imprensa tradicional, no seu suporte de papel, competir tanto em velocidade de circulação de informação como em rentabilidade com os outros meios de informação pública, pelo que os jornalistas tendem a ser os primeiros sacrificados quando as empresas comerciais de que dependem começam a ter prejuízos financeiros nas áreas em que se desenvolve a sua actividade.
Esta perspectiva faz-nos suscitar fundadas dúvidas sobre o grau de independência que os jornalistas podem sustentar quando está em risco a sua sobrevivência económica, quer no que respeita à escolha dos temas a publicar ou a investigar, quer no que respeita ao modo de os apresentar ou de sobre eles expenderem opiniões, sendo conhecidos casos de cessação unilateral de contrato de trabalho na sequência de publicação de factos ou opiniões que causaram desagrado nos detentores do capital das respectivas empresas.
E deste modo outras dúvidas se colocam aos cidadãos que em países onde há formalmente liberdade de imprensa, e que legitimamente se podem interrogar se têm à sua disposição os meios onde podem confrontar diferentes versões de factos ocorridos, ou inclusivamente se determinados acontecimentos foram deliberadamente ocultados, ou ainda se não houve restrições à publicação de opiniões diferenciadas - naturalmente dentro das ópticas de justa razoabilidade face a espaços disponíveis e a outros factores em que a sensatez quanto à oportunidade de publicação se deve impor.
Porém, e curiosamente, um dos factores que tem sido invocado para a necessidade de redução de despesas - a crescente difusão de informação pela Internet - pode conter paradoxalmente as sementes do que pode ser a sobrevivência de muitos jornalistas.
Já existem experiências de cooperativas de jornalistas que, na sequência de cessações unilaterais de contratos de trabalho por parte de entidades empregadoras, concretizaram projectos sustentáveis de informação através da Internet, através de financiamento colectivo obtido pelo mesmo modo ("crowd-funding").
Cada vez sentimos mais necessidade de haver à nossa disposição meios de escolha dos modos de obtenção de informação que reputemos como credível, o que melhor asseguraremos se nos apoiarmos num conjunto de jornalistas em quem para tal confiamos.
Caros jornalistas no desemprego: podem contar comigo se avançarem na concretização de projectos da natureza cooperativa que me permitam confiar em vós no que respeita à pluralidade e liberdade de informação.
15.Junho.2014.