Erasmus: uma oportunidade ainda não perdida?
Cerca de 300 mil cidadãos (na sua grande maioria jovens) beneficiaram em
2013 da oportunidade de estudarem ou de terem uma experiência de aperfeiçoamento
profisional no estrangeiro, em especial noutro Estado-membro da União Europeia,
ao abrigo do já muito conhecido programa Erasmus.
Juntaram-se assim aos quase 3 milhões de cidadãos que desde 1988
beneficiaram deste programa, que procurará atingir cerca de 4 milhões no
período de 2014 a 2020 com um orçamento de quase 15 mil mihões de Euros
Números importantes, dir-se-á numa primeira apreciação. Porém e apesar
do grande crescimento que tiveram nos últimos anos, e das maiores expectativas
para os próximos, estamos bem longe do que poderia ter ocorrido e do que seria
bem desejável para os anos vindouros.
Isto, porque o reduzido nível quantitativo das subvenções financeiras
(em média cerca de 300 Euros mensais) implica que muito provavelmente os
beneficiários provenham de famílias com recursos financeiros que permitam
prover aos significativos dispêndios com alojamento, alimentação e obtenção de
meios de estudo que excedem em muito o montante referido, o que faz supor que
na sua grande maioria os jovens abrangidos provenham de famílias com recursos
suficientes para prestarem apoios complementares.
Ou seja, que o universo dos beneficiados exclui muito provavelmente os
que têm menos recursos.
Por outro lado, os estudantes abrangidos não excedem 5% do universo total
dos que estão frequentando estudos universitários na União Europeia, e a
percentagem dos que optam por estágios em empresas ainda é mais reduzida.
Acresce que apenas 16% dos que beneficiaram do Erasmus em 2013 estiveram
em áreas relacionadas com a engenharia, bem longe dos cerca de 63% que se
dedicaram a estudos nas ciências sociais, gestão, direito e artes.
Não há dúvida de que o Erasmus induziu um forte espírito de pertença a
uma união europeia entre a esmagadora maioria dos cidadãos abrangidos por este
inovador programa.
Contudo, se verificarmos a débil percentagem que os fundos atribuídos
têm tido nos orçamentos da União Europeia nos últimos anos, bem como a que
apesar do aumento previsto ocorre para os próximos 6 anos, não podemos deixar
de nos interrogar sobre o que a União seria, e poderia vir a ser, se uma
muitísimo mais ambiciosa política tivesse vindo, e viesse, a ser adoptada no âmbito do
programa Erasmus.
Incidindo no aumento das subvenções de apoio e no dos cursos de línguas
preparatórios para as estadias noutros Estados-membros, no crescimento
exponencial do número de pessoas envolvidas, no fomento de áreas de estudo e de
estágios profissionais até agora menos privilegiadas, na introdução do conceito
de famílias de apoio - para só citar algumas - recuperaríamos muito do tempo e
recursos perdidos na concessão de subsídios a actividades que não deveriam ter
ocupado o lugar cimeiro que os cidadãos poderiam ter ocupado na construção de
uma verdadeira união entre os povos - e que só o contacto entre as pessoas pode
verdadeiramente proporcionar.
Esperemos que ainda haja tempo para se recuperarem as oportunidades
perdidas no passado.
13.Julho.2014.
( Erasmus 2012/13 em números: http://europa.eu/rapid/press-release_MEMO-14-476_en.htm )