Portugal: crónica de uma morte pressentida.
A tendência que tem vindo a ser constatada no que respeita à balança demográfica não apresenta sinais de inversão, apontando para que dentro de poucas dezenas de anos haja muito mais pessoas com idades superiores a 60 anos que com menos de 18, reflectindo-se tal facto na sustentabilidade do sistema de segurança social - desde a saúde às pensões de reforma.
Tal facto tem sido agravado pelo aumento do desemprego e da emigração, nomeadamente nos sectores da população mais jovem, e com uma acentuada componente da mais qualificada, bem como nas migrações internas que deixam um interior cada vez mais solitário e desprotegido.
O desejável aumento do ritmo do crescimento económico não parece que possa vir a acontecer sem forte aumento do investimento público e privado que não se descortina nem a médio nem a curto prazo tanto a nível nacional como europeu ou extra-europeu, para tal contribuindo o facto de a desejável redução da dívida pública para menos de 60% do produto interno bruto não parecer possível sem um forte desenvolvimento da economia, caso não ocorram alterações significativas na estrutura do endividamento.
Apesar do apoio internacional, nomeadamente europeu, à reconversão estrutural do nosso País após a democratização e a descolonização, constata-se que o que agora parece ter sido o erro da adesão à moeda única, bem como o da atitude recomendada pela Comissão Europeia face à crise financeira de 2008, levaram a uma situação da qual parece difícil uma saída, dados os ingredientes que prenunciam maus tempos para a sobrevivência de Portugal enquanto Nação: desequilíbrio demográfico, desemprego, emigração, dívida, recessão.
Sem protestos violentos, um povo envelhecido mas laborioso olha para os dirigentes que democraticamente tem eleito para conduzir os seus destinos, e concluirá inevitavelmente que tem que participar mais nos processos de decisão e que o tem que fazer a partir do nível local de intervenção.
Concluirá que a generalidade dos eleitos não se tem mostrado à altura de responder adequadamente aos desafios que se têm colocado, e que se agravarão, sendo tempo de aperfeiçoar os processos de escolha dos dirigentes, que não têm sobretudo mostrado preocupar-se seriamente com as perspectivas de futuro.
Apelará a que os principais responsáveis renunciem aos seus cargos, e colaborem nas mudanças dos processos de escolha que levem a que uma outra estirpe ajude a evitar para Portugal uma morte pressentida.
17.Agosto.2014.