"Ponto de vista": Finanças mundiais e entropia.

   Finanças mundiais e entropia.

Quando os activos financeiros existentes a nível mundial já equivalem a cerca de 12 vezes o valor estimado para os bens e serviços (e dentro de 5 anos poderá chegar a 15 ou 16 vezes)  não podemos deixar de nos preocupar sobre tal constante crescente desequilíbrio, que aliás só começou a ocorrer de forma marcante a partir do último quartel do século passado depois do colapso dos acordos de Bretton Woods.

   Por outro lado, com a regressão geral das taxas de juro os apetites do capital financeiro tendem a valorizar operações especulativas que, abrigadas por uma falta de regulação de movimentos financeiros a nível mundial e pela existência de diversos paraísos fiscais, privilegiam os detentores de maiores activos favorecendo o crescimento quase exponencial dos seus valores e aumentando o crescente fosso relativamente ao crescimento da "economia real".

    Estamos assim perante uma situação de natureza entrópica, em que ao aumento anárquico da informação dentro de um sistema corresponde uma diminuição da capacidade de tomada de decisões de tipo organizativo visando uma melhor regulação do conjunto.

    O que pode acontecer (e já sucedeu numa primeira fase) será a ocorrência de pequenos incidentes de natureza "explosiva", de que houve alguns afloramentos como o da queda das ".com", a sequência post-11 de Setembro e episódios Enron/A.Andresen, e a bolha hipotecária que teve como um dos seus resultados a falência do Lehman - e a crise das dívidas soberanas.

    Outros epifenómenos que caracterizam "fugas para frente" aproveitando faltas de regulação a nível internacional foram a crise bancária cipriota e o actualíssimo "império do espírito santo", e que mostram bem a incapacidade dos reguladores - Estados ou Bancos Centrais - de avaliarem e seguirem os fluxos financeiros quando estes estão protegidos pela extrema liberdade de circulação mundial de capitais.

    Continuaremos assim a assistir ao galopante crescimento dos activos financeiros, nomeadamente dos que são possuídos por grandes detentores do capital, cuja tendência normal será a de procurarem fórmulas muitas vezes especulativas que os tendam a aumentar desproporcionalmente - e nomeadamente face à economia real.

    E quando tal aumento entra em conflito com o mundo dos bens e serviços produz-se um choque que se traduz inevitavelmente pelo aparecimento de mais uma "bolha" - a ser resolvida pelo mundo não financeiro.

    Porém quando a entropia do sistema financeiro atingir uma dimensão tal que não seja possível a tomada de decisões eficazes, o conjunto de "bolhas" que irão surgindo pode assumir a forma de uma explosão, cujos efeitos não deixarão de se fazer sentir em todo o sistema económico-financeiro mundial.

    Infelizmente as sociedades humanas têm assentado - por falta de adequada informação - muito mais  no caminho da correcção de erros do que na respectiva prevenção, e temo que tal continue a suceder.

  10.Agosto.2014.