Juncker: o milagre da multiplicação dos Euros.
O novo Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, deu a conhecer há poucos dias, com pompa e circunstância, um plano para revitalizar a economia na União Europeia, apresentando um número mágico superior a 315 mil milhões de Euros que corresponderia a um investimento concretizavel a partir de Junho de 2015 e executável em 3 anos.
Porém na apresentação do plano constatou-se que a Comissão Europeia apenas contribuiria com 16 mil milhões, havendo também um compromisso do Banco Europeu de Investimento de participação com 5 mil, verbas estas que constituiriam segundo J.C.Juncker uma garantia indutora de que os restantes quase 300 mil milhões viriam de investimentos privados.
Esta pormenorização financeira não constava do discurso que em 15 de Julho perante o Parlamento Europeu marcou a sua apresentação de candidatura ao cargo de Presidente da Comissão Europeia, e em que o número mágico então referido de 300 mil milhões de Euros terá constituido forte argumento eleitoral, percebendo-se agora que assentava num milagre: o da multiplicação dos Euros.
Exceptuando qualquer arma secreta de natureza financeira como por exemplo uma fortíssima redução de impostos para as empresas participantes (que creio ter sido aplicado no Luxemburgo e noutros santuários) não se descortina como é que o "Plano Juncker" poderá ter sucesso.
A própria participação do Banco Europeu de Investimento, 5 mil milhões, é ridiculamente baixa face ao tecto quase ilimitado que poderia teoricamente atingir caso os "accionistas" - os Estados-Membros da União Europeia assim o entendessem.
Recordemos, a título de comparação, que no mesmo prazo de 3 anos a República Portuguesa (Estado de pequena dimensão face a todo o conjunto) recebeu fundos correspondentes a 25% dos apresentados no Junckeriano programa.
Parece assim que o que se passa é um emaranhado de indecisões.
O Banco Central Europeu - com responsabilidades apenas sobre uma parte da União, e totalmente autónomo face às outras instituições - tenta animar a economia através de acções sobre o valor da moeda e sobre concessões de facilidades de natureza financeira à banca, esperando ansiosamente que esta defina prioridades de concessão de crédito consentâneas com as políticas "austeritárias" (não necessariamente coincidentes com os seus interesses próprios nem com perspectivas de criação de emprego - favorecendo pequenas e médias empresas - ou com outros objectivos enunciados pelo Conselho Europeu).
Os restantes Estados-Membros, cada um com a sua moeda, Banco Central e Banca "tradicional", tentam cumprir os objectivos de desenvolvimento indicados pelo Conselho Europeu recorrendo aos instrumentos financeiros tradicionais e ao recurso ao crédito bancário internacional.
O Banco Europeu de Investimento, entidade que poderia contribuir decisivamente para a concretização de grandes projectos indutores de crescimento, depara-se com a oposição disfarçada dos Estados-Membros seus "accionistas" que não querem ouvir falar de políticas expansionistas - mesmo se acompanhadas de fortes disposições visando o equilíbrio orçamental.
A ilação a tirar é uma: é a política que deve comandar a economia, bem como os instrumentos financeiros - que não são mais do que crédito. E este é uma consequência da confiança.
Que por sua vez provem da determinação política, e não de qualquer contabilista que esteja no lugar de Ministro das Finanças.
30.Novembro.2014.