"Ponto de vista": UE: democracia em perigo ?

    UE: democracia em perigo ?

    Segundo a Economist (20 de Janeiro), a razão para o crescente sentimento de haver uma crise da democracia na Europa decorre do aumento do "fosso" existente entre os dirigentes políticos e os eleitores.

    Sucede que os cidadãos estão agora melhor informados, pelo que a sua apreciação das acções dos seus representantes é muito mais fundamentada e cada vez mais distante dos tempos em que a democracia representativa outorgava aos eleitos poderes que só eram objecto de escrutínio em períodos eleitorais.

    Sendo evidente que em sociedades complexas não se pode nem deve proceder a referendos mensais sobre a adopção de novas disposições legislativas, cabe interrogarmo-nos como se pode melhorar um sistema democrático baseado em eleições de representantes de dezenas de milhares de cidadãos, que dificilmente conhecem quem foi eleito, e que obviamente não tem disponibilidades de tempo para dialogar com os seus eleitores de modo a que estes se possam aperceber da personalidade de quem os representa e a quem se outorga o poder legislativo.

    É assim evidente que o modelo político que temos vindo a seguir na União Europeia e na maioria dos Estados tem que ser melhorado no sentido de os partidos políticos evoluírem no sentido de haver uma maior proximidade face aos cidadãos.

    Uma das melhores maneiras de se caminhar em tal sentido não assenta em "engenharias eleitorais" do tipo "círculos uninominais" , mas sim através do reforço do poder local, tanto em atribuições, competências e recursos, como em capacidade eleitoral de escolha de Câmaras legislativas com capacidade legislativa - tal como tenho vindo a defender nestas páginas, e em diversos textos na Imprensa.

    Os partidos políticos não deixariam assim de procurar escolher quem fosse mais capaz de a nível local exercer os seus mandatos e de transmitir os seus pontos de vista, proporcionando-se deste modo o aperfeiçoamento da sua qualidade enquanto elementos fundamentais para a existência de um sistema democrático saudável.

    Doutro modo, continuaremos a afundar-nos alienados num quadro de divisão crescente entre "eles" e "nós".

    25.Janeiro.2015.